Folha de S. Paulo


CRÍTICA

'La Sapienza' reforça trabalho único e sublime de Eugène Green

O grande tema de Eugène Green, diretor americano naturalizado francês, é a transmissão de conhecimento e o encantamento pelas mais nobres formas artísticas.

Isso se torna mais evidente em seu terceiro longa, "A Ponte das Artes", no qual um jovem prestes a se matar desiste da ideia ao ouvir a voz celestial de uma cantora em "Lamento della Ninfa", de Claudio Monteverdi, precursor do barroco musical italiano.

Em seu quinto longa, "La Sapienza", Green mostra novamente o encanto pela arte e a transmissão de conhecimento de um homem para um jovem estudante.

Urs Flueeler/Efe
LUZ411 LOCARNO (SUIZA) 08/08/2014.- El director francés Eugene Green posa durante la presentación de la película
Eugène Green posa durante o 67º Festival de Locarno

Alexandre Schmidt (Fabrizio Rongione), arquiteto francês renomado, viaja pela Itália com sua mulher, Aliénor (Christelle Prot, atriz constante nos filmes do diretor). Num passeio, eles encontram os irmãos adolescentes Goffredo (Ludovico Succio) e Lavinia (Arianna Nastro).

Alexandre e Aliénor vivem no tédio, também porque não se encaixam em um mundo em que o dinheiro sempre fala mais alto. O filme mostra, então, a revitalização da relação do casal por meio do encontro com Goffredo e Lavinia: a juventude e sua sede de aprendizado.

Propõe também uma interessante discussão sobre a arquitetura barroca italiana: Gian Lorenzo Bernini era o arquiteto racional, que se submetia às regras e hierarquias do poder, enquanto Francesco Borromini era livre, místico, aberto às experiências humanas.

O estilo de Green é simples, baseia-se sobretudo na recusa ao naturalismo. Os atores falam com impostação, muitas vezes olhando diretamente para a câmera e com o corpo quase imóvel. Não são robôs, pois a emoção está sempre presente em seus olhares, mesmo quando o tédio predomina em cena.

Divulgação
Atores Christelle Prot, Arianna Nastro, Ludovico Succio e Fabrizio Rongione em cena do filme
Da es. para a dir.: Christelle Prot, Arianna Nastro, Ludovico Succio e Fabrizio Rongione em cena do filme "La Sapienza"

Esse tipo de encenação destaca o valor do texto, da palavra, e propõe uma forma diferente de apreensão por parte do espectador, que jamais é ludibriado pela engrenagem narrativa. Pelo contrário: está o tempo todo consciente de presenciar uma autêntica obra de arte.

Essa relação entre criador e espectador é fundamental para entendermos o cinema único e sublime de Eugène Green, cineasta muito distante da habitual pobreza do cinema contemporâneo.

LA SAPIENZA
DIREÇÃO Eugène Green
ELENCO Fabrizio Rongione, Christelle Prot, Ludovico Succio
PRODUÇÃO França/Itália, 2014, 12 anos
QUANDO estreia nesta quinta (10)


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