Folha de S. Paulo


Em domínio público desde janeiro, 'O Pequeno Príncipe' dispara nas vendas

"O Pequeno Príncipe" é um clássico setentão com fôlego de garoto. Publicado originalmente em 1943, o livro já vendeu aproximadamente 145 milhões de exemplares no mundo.

No Brasil, estima-se que 2 milhões de títulos foram vendidos desde 1952.

Neste ano os números ganharam ainda mais impulso. Em 1º de janeiro, "O Pequeno Príncipe" caiu em domínio público. Ou seja, pode ser publicado por qualquer editora sem o pagamento dos direitos autorais.

Pelas leis brasileiras, todas as obras de um autor ficam protegidas por 70 anos após sua morte, contando a partir de 1º de janeiro do ano seguinte à morte. Antoine de Saint-Exupéry, autor do livro, morreu em 31 de julho de 1944.

Uma pesquisa da empresa Nielsen BookScan indica o reflexo disso nas vendas do livro.

Pequeno Príncipe

No primeiro semestre deste ano, 58 edições do livros, nacionais ou estrangeiras, foram comercializadas nas livrarias do Brasil. No mesmo período do ano passado, havia 37 versões disponíveis.

"O Pequeno Príncipe" vendeu neste primeiro semestre quase 159 mil exemplares (alta de 123% em relação ao primeiro semestre de 2014) e arrecadou R$ 2,6 milhões (crescimento de 69%).

Uma versão da editora Agir, com a tradução de dom Marcos Barbosa de 1952, foi a campeã de vendas neste ano - 63 mil cópias vendidas. Os dados são da empresa Nielsen BookScan.

Esta mesma edição foi a mais vendida também em 2014 - no ano passado, o grupo Ediouro, do qual a Agir faz parte, detinha os direitos exclusivos da obra.

Com a queda do livro em domínio público, novas editoras passaram a explorar a mina de ouro, oferecendo novas traduções ao público.

O segundo "Pequeno Príncipe" mais vendido entre janeiro e junho deste ano - quase 29 mil exemplares - é uma edição da Geração Editorial em capa dura, traduzida por Frei Betto. A editora lançou também mais duas outras versões da história, em formato de bolso.

A L&PM lançou nas livrarias o clássico infantil em dois formatos, o tradicional e o pocket, com tradução de Ivone C. Benedetti. O formato pocket, marca da editora, já vendeu 7.500

A Zahar publicou uma edição traduzida por André Telles. Já a versão da Autêntica foi vertida para o português por Gabriel Perissé.

A Casa da Palavra (Grupo Leya) uniu dois filões valiosos no mercado e lançou no começo de junho "O Pequeno Príncipe Para Colorir".

O mais recente "Pequeno Príncipe" saiu no final de agosto pela Companhia das Letras, traduzido por Mônica Cristina Corrêa. A bela edição em capa dura traz aquarelas de Saint-Exupéry e textos de análise de Corrêa, especialista na obra do escritor.

"O que realmente pesou nas nossas escolhas foi o estudo da obra de Saint-Exupéry e de sua biografia, com que estou trabalhando há praticamente dez anos", afirma ela.

"Assim, tanto o contexto em que foi escrita quanto a análise à luz das demais obras do autor foram primordiais para algumas opções e para o 'tom' da tradução. Há trabalhos numa linguagem mais direta e contemporânea, mas preferimos manter, dentro do possível, um vínculo com o original."

Corrêa atribui o imenso sucesso do livro, entre outros fatores, aos valores universais tratados (amizade, relacionamento, morte, separação) e à estrutura mítica da trama.

"O pequeno príncipe sai de seu mundo comum (o de seu planeta), motivado pelos desentendimentos com a rosa (que ele não sabe ainda que é sua), encontra um "guia" (o piloto, ou sua própria forma adulta) e faz a peregrinação. É a jornada de qualquer herói mítico. Talvez essa jornada seja a de um adulto ao encontro de si mesmo, em seu estado mais "primitivo" (o da infância) e se feche como um ciclo. Curioso é o fato de que tenha sido justamente o último livro do autor, cuja vida também se encerrará no ano seguinte."

FILME

Além das livrarias, "O Pequeno Príncipe" também invadiu os cinemas brasileiros em agosto. A animação dirigida por Mark Osborne ("Kung Fu Panda") não é exatamente fiel, inclui uma garotinha treinada pela mãe para ingressar em uma escola rígida, mas também é um secesso de bilheteria.

Foi o filme mais visto nos cinemas brasileiros no último fim de semana. Em cartaz há duas semanas, já acumula 850 mil espectadores. A pesquisa da Nielsen BookScan foi concluída no fim de junho, portanto não apurou o impacto do filme nas livrarias. É provável que alavanque ainda mais a venda de livros.

O filme inspirou ainda três outros livros, publicados pela HarperCollins: "O Pequeno Príncipe: A História do Filme", "O Pequeno Príncipe: Livro Ilustrado do Filme", ambos traduzidos por Maria de Fátima Oliva Do Coutto, e uma edição com o texto integral, na tradução de dom Marcos Barbosa, e imagens da adaptação para o cinema.

A marca poderosa do "Pequeno Príncipe" também é encontrada em uma vasta gama de produtos - bonecos, materiais escolares, quebra-cabeças, sacolas, toalhas, copos de plásticos.

Para garantir sua parte na divisão desse bolo, a família de Saint-Exupéry transformou os personagens do livro em marca registrada. Mesmo com o livro em domínio público, quem usar os personagens e desenhos do autor em produtos derivados terá de pedir autorização aos herdeiros.


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