Folha de S. Paulo


Editor lapão cria onda de livros nórdicos no Brasil

Leena Lehtolainen está ansiosa para sair da Finlândia no fim do ano, quando a neve já terá dominado as paisagens em que ela situa seus romances de mistério e de crime, e rumar para o lugar mais frio de um país exótico e mais quente: Porto Alegre.

A autora, que já vendeu mais de dois milhões de livros em todo o mundo, vem à América para conhecer as traduções de sua obra para a 26ª língua, o português.

"Ela nunca achou que publicaria no Brasil", diz o finlandês Pasi Loman, 39, o agente literário de Lehtolainen e de dezenas de outros autores nórdicos no Brasil, cujos sobrenomes cheios de vogais se tornaram mais comuns nas livrarias.

Bruno Santos/Folhapress
São Paulol, SP , BRASIL- 20-08-2015: Na foto, o finlandês Pasi Loman (39), fotografado no Teatro Municipal de São Paulo, que ao chegar no Brasil, nove anos atrás, notou a ausência da literatura Nórdica e iniciou sua carreira como publisher especialisado nesse seguimento. ( Foto: Bruno Santos/ Folhapress ) *** ILUSTRADA *** EXCLUSIVO FOLHA***
O finlandês Pasi Loman, no Teatro Municipal de São Paulo

Um levantamento da Folha mostra que ao menos 50 livros escritos por autores de Dinamarca, Suécia, Islândia ou Finlândia foram publicados nos últimos 12 meses. Em 2010, foram 18. "Acho que tenho a ver com isso", diz ele.

Saído da Lapônia, região do norte escandinavo, veio parar nos trópicos por questões "cardíacas". Jovem, foi morar na Inglaterra. Conheceu uma brasileira e, após o casamento, há nove anos, migraram.

Chegou a São Paulo para dar aulas de inglês, no ápice do sucesso da trilogia "Millennium", do sueco Stieg Larsson. Mas o historiador Loman não achava outros nas livrarias. Fundou uma empresa, a Vikings of Brasil, e fez uma lista de tradutores das quatro línguas nórdicas. Foi bater na porta de editoras.

O estado de bem-estar social inclui incentivos à tradução de obras nacionais. Os governos pagam até 50% do cachê do tradutor.

"Isso faz com que fique quase o mesmo preço de um tradutor de inglês, que ganha bem menos." Em 2014, a Dinamarca aprovou 96% dos pedidos para verter uma obra para o português. Assim, ele conseguiu negócios com as maiores editoras do país.

O grosso das obras segue o estilo sombrio dos romances de crime tão caros àquele canto. É o caso de "Dê-me os teus Olhos", de Torsten Pettersson e "Sherlock Holmes no Japão", de Vasudev Murthy.

Mas há expoentes diversos. Uma auto-ajuda foi seu título de maior sucesso: é "A Arte de Ler Mentes", de Henrik Fexeus, já na quinta edição.

Nos últimos meses, ele trilha o caminho inverso, e exporta autores brasileiros. "Cidade de Deus", de Paulo Lins, recebeu boas resenhas. "Flores Artificiais", de Luiz Ruffato, aportou na Finlândia com o nome "Tekokukkia".

Após a entrevista, Loman rumaria a uma aula de inglês que ainda ministra para uma firma de TI (tecnologia da informação). "Tinha planejado viver só dos livros em 2015. Mas veio a crise e..."


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