Folha de S. Paulo


Diretores brasileiros traduzem dez peças de autores espanhóis

Dez peças contemporâneas espanholas ganharam edição brasileira a partir deste mês. Uma parceria entre a AC/E - Acción Cultural Española, braço do governo espanhol, o Tempo Festival, do Rio, e a editora Cobogó lançará os textos traduzidas por diretores de teatro brasileiros.

Com tiragem média de mil exemplares, os livros (R$ 30 cada um) serão lançados, de dois em dois, em cinco festivais de teatro nacionais, com participação dos autores e dos tradutores, que dirigem leituras encenadas das obras.

"A ideia inicial era a de promover um intercâmbio entre as produções dramatúrgicas do Brasil e da Espanha, afirma Márcia Dias, diretora do Tempo. "E pensamos que a melhor maneira de fazer isso seria em festivais."
A escolha dos autores partiu da premissa de que fossem contemporâneos e premiados, com peças que já tivessem sido encenadas e ganhado repercussão na Espanha.

"A dramaturgia contemporânea espanhola é muito diferente do que se faz no Brasil hoje", avalia Isabel Diegues, editora-chefe da Cobogó. "Eles têm um véu dramático, em contraponto com o teatro brasileiro, que tem mais humor, mesmo quando trata de temas sérios."

Os primeiros livros serão lançados no dia 23, no Cena Contemporânea (Brasília): "Cachorro Morto na Lavanderia: Os Fortes", de Angélica Liddell, traduzido por Beatriz Sayad, e "O Princípio de Arquimedes", de Josep Maria Miró i Coromina, versado ao português por Luís Artur Nunes. Na ocasião, o Grupo Cena e o Coletivo Tombado farão as leituras encenadas.

DESCONHECIDOS

"A língua espanhola tem uma dramaturgia contemporânea muito forte. Mas aqui conhecemos mais os atores modernos, acho que até pela falta de publicações", diz Cibele Forjaz, que versou para o português "Os Corpos Perdidos", de José Manuel Mora.

De acordo com Márcia, para a tradução buscou-se parear autores e diretores com linguagens próximas.

"Não conhecia [José Manuel Mora], mas foi uma grata surpresa. Ele tem planos justapostos e uma linguagem épica muito elaborada", conta Cibele. "É um autor para ser conhecido tanto por pessoas de teatro quanto por quem gosta de literatura."

Roberto Alvim (da companhia Club Noir) também ficou responsável por uma obra com "uma escritura muito intrincada", "Dentro da Terra", de Paco Bezerra. Mas também, segundo o diretor, com uma temática recorrente em autores sul-americanos: "Essa ideia de enterrar a memória de regimes totalitários e construir outra coisa por cima que apague esse passado", diz.

Já Aderbal Freire-Filho traduziu "A Paz Perpétua", de Juan Mayorga, autor com quem o encenador já tinha bastante familiaridade. "Ele tem uma poética aberta, sem limites, sem preocupação com um extremo realismo."

DRAMATURGIA ESPANHOLA


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