Folha de S. Paulo


Nerds são heroínas em 'Project MC²', série da Netflix com Danica McKellar

Danica McKellar, a Winnie de "Anos Incríveis", cresceu e chegou aos 40 anos como uma matemática laureada, cujos livros figuram entre os mais vendidos da área. Talvez valha dizer que ela é um mulherão de parar o trânsito e, quando dá na cuca, posa para fotos de lingerie, mas isso é secundário.

É esse o espírito de "Project MC²", série infantojuvenil cuja primeira temporada, de três capítulos, estreou mundialmente na Netflix nesta semana. A segunda leva de episódios já está confirmada.

O seriado narra a vida de quatro adoráveis amigas, que têm prioridades maiores que a chapinha do cabelo: são aficionadas por matemática, biologia, física e química.

As matérias são bem aplicadas na prática: as pré-adolescentes usam seus conhecimentos para desvendar crimes e ajudar pessoas.

Acabam sendo convidadas para integrar um serviço secreto global formado apenas por mulheres nerds.

"Sim, é verdade, são as mulheres que comandam o mundo", diz a personagem de McKellar, a predecessora do grupo, no primeiro episódio. Nele, o roteiro subverte a lógica do jogo "Super Mario", em que a princesa sempre precisa ser salva. Nos primeiros episódios, as garotas estão em missão para salvar um membro de uma realeza. E ele é um homem.

(Meninos e namoros ainda são só um problema teórico para as estudiosas.)

CÉREBRO COMBINA

Por enquanto, as gurias se preocupam mais com desenvolver um despertador usando uma furadeira, tubos e um relógio cuco, colher impressões digitais usando produtos de limpeza ou conversar com um tablet que serve também como melhor amigo.

Uma ex-agente da CIA, agência de inteligência americana, prestou consultoria para que as cenas fossem mais verossímeis.

"Essas garotas podem ser espertas, bacanas e estilosas. Esperteza combina com qualquer coisa", diz Victoria Vida, uma das protagonistas.

Filha de brasileiros, a americana, que já fez ponta em outros seriados, estreia em um papel principal. Interpreta uma latina com "s" sibilante e sem país de origem definido.

"Não se esqueçam de que o que você tem por dentro é que vai te levar adiante. Então vamos em frente, 'chicas'!", diz Vida à Folha, por e-mail. Sua personagem, na série, usa expressões como "que rico!" e tem um sotaque mais para Sofia Vergara do que para Alice Braga.

Seria pedido do diretor para criar uma personagem latina com mais escopo do que uma lusófona? "O sotaque é 100% certificado por Victoria Vida. E, sim, eu amo ter um sotaque", diz a atriz, cujo currículo inclui ter dançado quando criança no "Domingão do Faustão" (Globo).

WENDY COM MESTRADO

Única mulher adulta de peso no elenco, Danica McKellar diz ter aceito o papel porque ele ia ao encontro de suas crenças. "Escrevi livros para mostrar para meninas que matemática é legal. O seriado vai no mesmo caminho."

Ela mesma acredita ter contribuído, mostrando que uma mestra em cálculo pode posar de sutiã. "Uma grande parte de aceitar seu intelecto vem da quebra de estereótipos, como o de que garotas têm de escolher entre ser inteligentes ou divertidas."

Perguntada se em "Anos Incríveis" ela já desconfiava que continuaria uma nerd quando crescesse, diz: "Que garota não sonha em ter superpoderes, como ser um adulto bacana?".


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