Folha de S. Paulo


Seleção da 10ª Bienal do Mercosul vai de Aleijadinho a Beatriz Milhazes

Um elenco que mais parece um catálogo telefônico de quem é quem na arte moderna e contemporânea da América Latina foi divulgado nesta quarta como lista de artistas da Bienal do Mercosul, que abre sua décima edição no dia 8 de outubro, em Porto Alegre. No total, cerca de 700 obras de mais de 400 autores estarão na mostra, entre eles mestres brasileiros que vão do barroco Aleijadinho à contemporânea Beatriz Milhazes.

Nas palavras de Gaudêncio Fidelis, à frente da mostra, a ideia é criar um evento com pegada museológica, indo na contramão de "exposições que se tornaram por demais excêntricas" e, por isso, "destinadas a um público reduzido ou especialistas".

Todos os nomes selecionados por Fidelis e seu time, aliás, vêm de 21 países latino-americanos, compondo o que chamam de "Mensagens de uma Nova América". Nesse sentido, a mostra tenta resgatar seu propósito inicial de ser uma espécie de fórum da produção do sul do planeta, agora mais fechado nos países latinos. Também tem a ver com uma restrição do orçamento da exposição, que caiu pela metade —de cerca de R$ 13 milhões na edição passada para os atuais R$ 6,5 milhões.

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Obra de Alfredo Jaar, que estará na Bienal do Mercosul, em Porto Alegre
Obra de Alfredo Jaar, que estará na Bienal do Mercosul, em Porto Alegre

Um reflexo desse aperto financeiro também aparece no fato de as obras serem todas peças históricas ou já feitas que serão emprestadas para a exposição, não havendo a produção de nenhuma peça inédita.

Nesse recorte histórico, há artistas de peso de quase todos os movimentos da arte brasileira e da América Latina. Do Brasil, estão contemporâneos badalados, como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes e Cildo Meireles, a tríade neoconcretista formada por Lygia Clark, Lygia Pape e Hélio Oiticica, concretistas como Franz Weissmann e Amilcar de Castro, modernos como Alfredo Volpi, Alberto da Veiga Guignard e Iberê Camargo, entre outros.

Do campo cinético latino-americano, também há mestres como Jesús Rafael Soto, Carlos Cruz-Diez e Rogelio Polesello, sem contar mestres da região como o construtivista uruguaio Joaquín Torres-García, os muralistas mexicanos Diego Rivera e José Clemente Orozco, além de pioneiros do vídeo, como Juan Downey.

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'Tropicália', instalação de Hélio Oiticica que estará na próxima Bienal do Mercosul, em Porto Alegre
'Tropicália', instalação de Hélio Oiticica que estará na próxima Bienal do Mercosul, em Porto Alegre

Entre as possíveis surpresas dessa Bienal museológica —o que pode até parecer uma contradição em termos, já que a ideia de uma mostra do tipo seria lançar nomes que ainda não estão nos museus—, está a escolha de uma artista como a performer Márcia X, que morreu há dez anos e anda há muito tempo fora do circuito. Outro resgate é o da obra de Hudinilson Jr. e de Arthur Bispo do Rosário, movimento que começou pelas duas últimas edições da Bienal de São Paulo.

No que parece ser o eixo mais fraco de sua seleção, a Bienal do Mercosul tem uma recorte acanhado de artistas emergentes da cena atual, com destaque para Adriano Costa, Beto Shwafaty, Ding Musa, Flávio Cerqueira, Lucas Simões e Tiago Tebet.


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