Folha de S. Paulo


Quase 2 anos após incêndio, Memorial da América Latina não começou reforma

O cimento queimado do auditório Simón Bolívar, no Memorial da América Latina, continua chamuscado 20 meses após um incêndio consumir quase tudo que havia lá dentro e lamber as paredes do prédio, na Barra Funda.

No início de 2014, após um segundo princípio de incêndio, o Memorial abriu uma licitação para o reparo dos danos. O projeto totalizava cerca de R$ 750 mil e previa que o restauro do concreto estaria pronto até março de 2015.

A reforma começou em dezembro de 2014, tocada pela empresa vencedora, Teccon AQ. Mas não durou mais que alguns dias. Depois de medir os espaços danificados, a construtora afirma ter descoberto que a área de concreto a ser reparada era maior do que o previsto no edital.

"A execução da obra nos termos contratados era impossível de ocorrer", diz em nota a advogada da firma, que revela estar processando o Memorial, para reaver a multa de rescisão contratual, de cerca de R$ 25 mil.

O Memorial -administrado por uma fundação ligada à Secretaria de Estado da Cultura de SP- responde que a empresa "começou a obra mas não deu continuidade", o que levou ao rompimento.

Enquanto isso, uma nova licitação foi finalizada nesta semana e deve ter seu vencedor divulgado nos próximos dias. Treze empresas se candidataram. O trabalho custará mais de R$ 6,5 milhões e está previsto para durar oito meses.

A diferença de preço entre as duas reformas é porque o escopo de trabalho do novo projeto é maior, e vai além do concreto, envolvendo revestimento de paredes e da abóbada que fica no salão.

TAPETE VOADOR
Um mistério cerca a obra de arte que ornamentava o auditório. A onda de cores tecida em 800 m² de tapeçaria por Tomie Ohtake, a pedido de Oscar Niemeyer, foi danificada pelo fogo. E o paradeiro de seus restos é incerto.

Divulgação
Painel em tapeçaria criado por Tomie Ohtake para a parede lateral do auditório Simón Bolívar
Painel em tapeçaria criado por Tomie Ohtake para a parede lateral do auditório Simón Bolívar

Inicialmente, o Memorial afirmou à Folha que resquícios da peça estariam em posse do instituto que administra o legado de Tomie, morta em 2015. "São uns caras de pau", diz o arquiteto Ricardo Ohtake, 77. "Nós nos dispusemos a auxiliar com a recuperação da peça, mas ela não está conosco e nem poderíamos bancar o trabalho."

Após saber da reação do filho de Tomie, o Memorial disse que a peça havia sido "totalmente consumida pelo fogo", com a possibilidade de "confecção de uma nova peça" com "o mesmo artesão que trabalhava com Tomie". Para quando, não se sabe.


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