Folha de S. Paulo


Fazer imagens é fácil; difícil é decifrá-las, analisa crítico

David Levi Strauss é um otimista. Embora corra o risco de ser chamado de arcaico, o crítico defende uma antiga crença sobre a fotografia em seu livro mais recente, "Words Not Spent Today Buy Smaller Images Tomorrow".

Para ele, as imagens permanecem na era digital como instrumento de evidência e conscientização sobre a realidade.

Em "Words Not Spent...", coleção de "ensaios sobre o presente e o futuro da fotografia", Strauss faz uma leitura do poder político de fotos documentais e artísticas em um momento em que a pós-fotografia propõe um novo entendimento sobre o uso da imagem.

O ensaísta britânico John Berger elogiou os escritos de Strauss, professor da School of Visual Arts, em Nova York, e um dos críticos de fotografia mais prestigiados dos Estados Unidos, por priorizarem "o que tem sido esquecido, o que é sistematicamente censurado e o que nós precisamos lembrar amanhã".

Nos ensaios, o americano alerta para os efeitos de uma produção crescente e uma distribuição mais ampla em plataformas digitais como Flickr, Snapchat, Instagram, Facebook e WhatsApp. Segundo o Yahoo, 880 bilhões de fotos foram produzidas em 2014.

Divulgação
"Massacre de My Lai", obra fotográfica do americano John Wood, realizada em 1969

"Podemos produzir, guardar, manipular e selecionar fotografias com uma rapidez inédita, mas não conseguimos decifrá-las. Esse é um processo que exige mais tempo do que aquele imposto pela economia de mercado", diz ele.

"Nós examinamos as imagens com menos frequência e menos cuidado". De acordo com o crítico, uma observação descuidada leva à perda de autonomia política. "As fotografias perdem significado e viram informação, um elemento que precisa ser apenas administrado."

Ao contrário da escritora Susan Sontag e dos críticos pós-modernos, Strauss considera as fotografias uma oportunidade legítima para lidar com o mundo real e o aparente.

"Muitos têm tratado o ponto de vista dos pós-modernos como uma verdade inquestionável. Mas com o 11/9, que abalou as teorias persistentes sobre os significados das imagens, o nosso pensamento pôde tomar um rumo novo", defende Strauss.

ESCOLHA HUMANA

"Mais uma vez reconhecemos e confrontamos a nossa atração irracional e persistente pelas fotografias, capazes de ser um termômetro confiável das aspirações que orientam um sistema político e social."

Ao argumentar a favor dessa opinião, Strauss analisa os trabalhos de artistas (Chris Marker, Frederick Sommer, Carolee Schneemann, Jenny Holzer, Larry Clark), de fotojornalistas (Susan Meiselas, Kevin Carter, James Natchwey) e de fotógrafos de rua (Helen Levitt, Daido Moriyama).

Haveria entre eles um elemento comum: "O testemunho de um escolha humana sendo realizada em uma certa circunstância". Tal noção, diz Strauss, "é o que faz o exame das fotografias importante para qualquer discussão sobre a liberdade humana".


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