Folha de S. Paulo


Atraído por trama, Ruffalo produz e atua em filme sobre bipolaridade

Ainda que algum desavisado entre no cinema sem saber que Sentimentos que Curam, que estreia nesta quinta (16), é um filme autobiográfico, a descoberta não deve demorar.

O longa, escrito e dirigido pela estreante Maya Forbes, traz um relato detalhado da história de sua própria família, tão singular que fica difícil acreditar que se trata de um roteiro inventado.

Passado na década de 1970, "Sentimentos" retrata um ano na infância de Maya, durante o qual ela e a irmã foram criadas pelo pai, um homem diagnosticado com transtorno bipolar logo após a mulher mudar de cidade para estudar.

A família, a propósito, também é parte importante da produção. A personagem inspirada pela diretora, Amelia, é interpretada por sua filha, Imogene Wolodarsky. O marido da cineasta, Wally Wolodarsky, é produtor do longa. E sua irmã, China, compôs uma das canções da trilha sonora.

Juntam-se à produção independente, porém, dois nomes de peso de Hollywood, na pele dos protagonistas: Zoe Saldana e Mark Ruffalo.

Ruffalo, aliás, correu atrás do papel de Cam Stuart (o pai bipolar) e tornou-se produtor-executivo do filme.

"Eu li e imediatamente me apaixonei pelo roteiro, de um jeito que normalmente não acontece. E decidi que precisava pegar esse papel. Isso é raro, geralmente tento convencer as pessoas a não me darem o papel", diz, em entrevista à Folha, em Nova York.

Ruffalo explica que foi atraído pelo humor e pela honestidade da história contada por Forbes. Além disso, embora tenha tantas diferenças com o personagem que interpreta –um herdeiro de duas famílias tradicionais da região nordeste dos Estados Unidos–, o ator diz ter se identificado com ele.

"Eu tenho casos de bipolaridade e depressão na minha família. E tenho três filhos a quem sou muito ligado", afirma Ruffalo. "Todas essas coisas me fizeram sentir que eu poderia fazer algo realmente incrível com isso. Poderia interpretar diversos estados emocionais e ainda deixar o filme emocionante e divertido."

Ainda que o tema mais óbvio do longa seja o transtorno que acomete o personagem interpretado pelo ator, Ruffalo afirma que não é uma história sobre uma doença.

"Acho que, no final das contas, é um filme sobre amor. É, sim, sobre família, e também um pouco sobre a doença e o fato de que ela é administrável", diz.

"Uma pessoa não é um transtorno mental, ela é, antes de tudo, uma pessoa. Assim como um babaca ainda é um babaca quando você o coloca numa cadeira de rodas."

O filme foi uma oportunidade para o ator, conhecido pelo engajamento social, de discutir uma de suas principais bandeiras: o feminismo.

Como pano de fundo, está o debate sobre a decisão de Maggie (Saldana) de deixar as filhas (temporariamente) para avançar em sua carreira. "A situação dos tempos modernos é: alguém precisa deixar a família para ganhar dinheiro, não importa se é o homem ou a mulher", diz Ruffalo.

Mas não é um incômodo que a discussão ainda seja atual, mesmo depois de 40 anos desta história?

"Sim, é um atraso que ainda estejamos tendo essa conversa. Mas acho que estamos progredindo no direito das mulheres. Nós já viramos a chave –e, mesmo que as pessoas lutem contra isso, não vamos retroceder."


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