Folha de S. Paulo


Praia na China abriga a 'biblioteca mais isolada do mundo'

Veja vídeo

O ato de ler à beira-mar ganhou outro sentido com a inauguração, há cerca de dois meses, de uma biblioteca erguida na areia de uma praia pouco movimentada de Qinhuangdao, a 300 km ao leste de Pequim.

Apelidada de "a biblioteca mais isolada do mundo", a moderna construção de concreto e compensado de bambu já atraiu milhares de visitantes em busca dos 70 lugares disponíveis –para entrar nos dias mais concorridos, é preciso conseguir uma das 200 senhas distribuídas pelo WeChat, rede social popular na China.

Para quem está dentro do prédio, é difícil saber em que prestar atenção: se no livro, na bela construção ou na imensidão do mar aberto à sua frente. O ponto de partida do projeto foi, justamente, a relação do indivíduo com o mar, afirma Dong Gong, arquiteto-chefe da biblioteca.

Outro elemento-chave é a mudança da luz natural dentro do prédio ao longo do dia e, com isso, a percepção sutil da passagem do tempo.

Essa sensação varia nos diferentes ambientes da biblioteca: na ampla sala de leitura, há bastante luz natural, e no pequeno espaço para meditação, a luz se limita a uma tira horizontal de 30 cm na parede. "A memória da pessoa soma essas duas experiências em uma só", diz o arquiteto.

GUARDA-SOL

E qual seria a diferença entre ler sob um guarda-sol na praia e ler dentro de um prédio em frente à praia? "Quando fui pela primeira vez a essa praia, não havia nada, estava chovendo. Você sente a natureza primitiva e se sente quase em risco", explica ele.

"O prédio, psicologicamente, pode te dar segurança. E, também, a luz é mais tangível dentro do prédio, você sente o tempo passando."

Além da experiência singular, a biblioteca oferece 5.000 títulos em chinês –principalmente de filosofia, história e literatura–, mesas, poltronas de frente para o mar, um café e uma sala separada para atividades.

Para a chinesa Yina Yao, 31, valeu a pena enfrentar nove horas de congestionamento nos 270 km de estrada entre Tianjin, onde mora, e Qinhuangdao para conhecer a biblioteca, no feriado nacional do final de junho. "Eu queria um lugar diferente, para aproveitar o tempo, relaxar e ler um livro. É perfeito, tudo está aqui", disse à Folha.

A biblioteca, construída ao custo de R$ 1,5 milhão, integra um grande complexo imobiliário nos arredores do distrito de Beidaihe, conhecido por abrigar reuniões dos líderes comunistas no verão.

Além do prédio já famoso, o condomínio tem dezenas de casas construídas e, ainda em fase de construção ou projeto, um hotel de rede, duas torres de lofts, campo de futebol, escola, museu, uma igrejinha, um café e um pequeno hotel –estes três últimos também de autoria de Dong Gong. Ou seja, quem quiser conhecer a "biblioteca mais isolada do mundo" deve se apressar.


Endereço da página:

Links no texto: