Folha de S. Paulo


Livros e mostra em SP celebram centenário de Roland Barthes

No ano em que se comemora seu centenário, Roland Barthes (1915-1980) é tema de exposição em São Paulo e de pelo menos dois livros que acabam de ser lançados. O pensador francês é autor do ensaio "Fragmentos de um Discurso Amoroso" (Martins Fontes), de 1977, best-seller que o elevou à fama na França.

Um colóquio internacional reuniu nesta semana em São Paulo pesquisadores do Brasil e de diversos países em torno da obra do escritor, que se dedicou a uma grande variedade de disciplinas, como teoria e crítica literária, linguística, fotografia e teatro.

Divulgação
Roland Barthes em foto de ano desconhecido presente na exposição da Casa das Rosas.
Roland Barthes em foto de ano desconhecido presente na exposição da Casa das Rosas.

"Barthes foi sem dúvida um dos maiores teóricos e críticos literários do século 20", diz Evando Nascimento, professor de literatura na Universidade Federal de Juiz de Fora. Ele explica que Barthes mudou o ofício ao forjar uma crítica inventiva num momento em que o modelo vigente era o comentário explicativo.

"Barthes inaugurou um tipo de pensamento que não passa necessariamente pela criação de conceitos, mas que faz o leitor pensar e o leva à ação", diz a professora de literatura francesa da USP Claudia Pino, organizadora do colóquio e autora do recém-lançado "Roland Barthes: A Aventura do Romance" (7Letras).

O livro trata do projeto que Barthes deixou inacabado e ao qual ele dedicou seus últimos anos, o romance "Vita Nova", escrito sob a égide de Proust, Dante e Tolstói. Para ela, a inovação de Barthes está "na forma entre ensaio e escritura poética, e que é uma reflexão sobre a literatura".

Na opinião de Laura Taddei Brandini, professora de literatura francesa e teoria da tradução da Universidade Estadual de Londrina, que pesquisa a recepção de Barthes no Brasil, sua característica mais marcante e que permanece é a de ser um libertário.

"Isso começou a se consolidar nos anos 1980 e 90, um Barthes que se opõe a toda forma de opressão e de exercício do poder", diz ela.

O caráter inovador de Barthes não é unânime. Para Leda Tenório da Motta, professora de comunicação e semiótica da PUC-SP e autora de "Roland Barthes - Uma Biografia Intelectual" (Iluminuras), o que o francês faz é um resgate de Baudelaire e Diderot, mais do que propriamente inovar. Para ela, Barthes retoma "um velho modelo de crítica francesa, sem aplicação de modelos explicativos".

A professora lança agora o livro "Barthes em Godard", em que aproxima elementos da crítica do pensador francês aos escritos e filmes do cineasta de "Uma Mulher é uma Mulher", como a postura irônica frente à publicidade.

MÚLTIPLO

Plural, como diz o nome da exposição na Casa das Rosas sob curadoria do pesquisador Rodrigo Fontanari, Barthes também escreveu sobre artes plásticas –era desenhista e pintor amador. A mostra aponta a trajetória intelectual do autor e sua influência sobre pensadores no Brasil, como Haroldo de Campos, com fotos dele ao longo da vida.

ROLAND BARTHES PLURAL
QUANDO de ter. a sáb., das 10h às 22h; dom. e feriados, das 10h às 18h; até 20/9
ONDE Casa das Rosas, av. Paulista, 37, tel. (11) 3285-6986
QUANTO grátis

BARTHES EM GODARD
AUTORA Leda Tenório da Motta
EDITORA Iluminuras
QUANTO R$ 47 (224 págs.)

ROLAND BARTHES: A AVENTURA DO ROMANCE
AUTORA Claudia Amigo Pino
EDITORA 7 Letras
QUANTO R$ 47 (156 págs.)


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