Folha de S. Paulo


Escritor argentino é condenado por plagiar 'O Aleph', de Borges

O poeta e escritor Pablo Katchadjian, 38, foi condenado na última semana pela Justiça argentina por plagiar um texto de Jorge Luis Borges.

Ao acrescentar 5.600 palavras próprias ao conto "O Aleph", Katchadjian criou sua versão para o clássico e o intitulou "Aleph Engordado".

O escritor recorreu da decisão em segunda instância e um novo julgamento deve ocorrer nos próximos meses. A Justiça determinou o bloqueio de 80 mil pesos (R$ 27 mil) sobre os bens do escritor até que saia a decisão final.

A pena para quem viola os direitos de propriedade intelectual na Argentina pode chegar a seis anos de prisão. Em 2009, Katchadjian publicou 200 cópias de "Aleph Engordado" por uma pequena editora de poesia.

No posfácio, descreveu a ideia do que havia criado. "O trabalho de engorda teve uma só regra: não tirar nem alterar nada do texto original, palavras, vírgulas, pontuação ou ordem. Isso significa que o texto de Borges está intacto, mas totalmente cruzado pelo meu, de modo que, se alguém quiser, poderia voltar ao texto de Borges."

AFP
O escritor argentino Jorge Luis Borges em foto no México em 1981.
O escritor argentino Jorge Luis Borges em foto no México em 1981.

Ter deixado evidente que não copiava Borges (1899-1986), mas buscava dialogar com o mestre, não poupou Katchadjian de um processo pela viúva do escritor, María Kodama. Ela o acusa de adulterar a obra.

"[Aleph Engordado] não é um experimento, é uma alteração de uma obra alheia. É como colocar um bigode na 'Mona Lisa', mas com um marcador que não se pode apagar. Na literatura, a obra original são as ideias, as palavras, e por isso não se pode tocá-las", diz Fernando Soto, advogado de Kodama.

O processo começou em 2011, quando Katchadjian ainda recitava a sua versão para o poema "Martin Fierro" (1872), texto argentino de José Hernández que descreve as agruras do mítico gaúcho.

A ideia era criar uma trilogia com "Martin Fierro Ordenado Alfabeticamente", "Aleph Engordado" e uma versão, não concluída, de "El Matadero" (Esteban Echeverría).

"'Aleph Engordado' é um livro meu, que escrevi trabalhando sobre um material prévio, algo que faz parte da história da literatura", afirma Katchadjian. A primeira decisão da Justiça entendeu que Katchadjian não pretendia obter vantagem financeira e relevou o suposto crime.

Mas os advogados de Kodama insistiram e Katchadjian sofreu um revés. Escritores e editores se mobilizaram contra a decisão e preparam um documento de apoio ao escritor que será lido em evento no próximo dia 3, na Biblioteca Nacional.

"Não sinto que tenha prejudicado ninguém com este livro, assim como não penso em me retratar", diz Katchadjian.


Endereço da página: