João Batista Vilanova Artigas, mestre da escola paulista de arquitetura, ficou famoso pela solidez despojada de suas construções em concreto armado e de vãos livres estonteantes, como o do prédio da FAU, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Mas, por mais abrutalhadas que fossem as suas obras, ele sempre manteve a elegância.
Na mostra no Itaú Cultural que celebra o centenário do arquiteto –ele nasceu em junho de 1915 e morreu aos 69, há 30 anos–, está sua indefectível coleção de gravatas-borboleta. É por um viés intimista, aliás, que Artigas e sua obra indissociável do horizonte paulistano são relembrados.
"Ele era uma figura extraordinária, de personalidade agradabilíssima e sedutora", lembra o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, outro mestre do brutalismo e discípulo de Artigas. "Essa era a sua graça."
Parecendo um Frank Sinatra nos trópicos, Artigas foi também uma das vozes mais aguerridas do Partido Comunista e provocou uma revolução no ensino da arquitetura. No caso da USP, sua ideia de dividir a área entre ciências do homem, da natureza e da construção se reflete nos contornos que deu à FAU, sua obra-prima como arquiteto.
Seus melhores projetos, aliás, datam da mesma época –a FAU, o edifício Louveira, a garagem de barcos do Clube Santa Paula e o estádio do Morumbi são todos desenhos de antes do golpe militar em 1964, que levou à cassação de Artigas como professor e a seu exílio no Uruguai durante quase um ano.
Nesse sentido, sua obra pode ser revista à luz da atuação política. "Ele criou uma continuidade espacial que não se usava", diz a historiadora Rosa Artigas, filha do arquiteto, explicando que ele aboliu divisões entre patrões e empregados nas casas que criou.
"Em nenhum país do mundo deveria existir isso de separar as castas", diz Rosa, que lança agora um livro sobre o pai, reunindo o maior número de obras num mesmo volume. "Ele achava isso um conceito rural, escravista, que não cabia numa casa de cidade."
Sua própria casa, a primeira que Artigas construiu para viver com a mulher antes de ter filhos, é um manifesto dessa atitude –um volume que se articula em torno da cozinha como eixo central, ligando o quarto no andar de cima à sala no térreo e ao porão.
É nítida ali a influência do americano Frank Lloyd Wright, famoso pela invenção de um modernismo orgânico, em que um único espaço do prédio acaba servindo de ponto de partida para toda a sua dinâmica de circulação.
APOLO E DIONÍSIO
Enquanto olhava para Lloyd Wright, Artigas também conhecia o modernismo europeu, liderado por Le Corbusier.
"Ele dizia que Lloyd Wright era dionisíaco e Le Corbusier era apolíneo", conta Álvaro Razuk, um dos organizadores da mostra de Artigas. A obra do arquiteto pode ser entendida como um meio-termo poderoso entre as duas escolas.
Num momento de industrialização incipiente e técnicas ainda precárias, Artigas se firmou como uma espécie de dândi comunista que tentou estabelecer a contrapelo uma nova modernidade em território tropical.
VILANOVA ARTIGAS
QUANDO mostra abre na quarta (24); de ter. a sex., das 9h às 20h; sáb. e dom., das 11h às 20h; até 9/8
ONDE Itaú Cultural - av. Paulista, 149; tel. (11) 2168-1776
QUANTO grátis
VILANOVA ARTIGAS
AUTORA Rosa Artigas
EDITORA Terceiro Nome
QUANTO R$ 120 (276 págs.)
LANÇAMENTO 1º/7, às 20h, no Itaú Cultural (av. Paulista, 149), com fala de Paulo Mendes da Rocha