Folha de S. Paulo


Artistas alternam versos e refrões com discursos engajados na Virada

O pastor Silas Malafaia e seu discurso anti-LGBT foram o alvo preferencial, mas também sobraram tomates para a proposta de reduzir a maioridade penal, o conflito entre Israel e Palestina, a crise na segurança pública, o racismo e a falta de água em São Paulo.

Artistas que se apresentaram na Virada Cultural usaram o microfone para revezar versos de suas músicas com discursos engajados.

Lenine falou pouco, mas um integrante de sua banda lembrou da polêmica entre Malafaia e o jornalista Ricardo Boechat, que trocaram ofensas na sexta (19). "Malafaia, vai procurar uma rola", disse um dos backing vocals, reproduzindo fala de Boechat.

No Festival Cultura Inglesa, evento parceiro e paralelo à Virada, a paraense Gaby Amarantos fez coro à colega francobrasileira Lia Sophia, que bradou um "foda-se Malafaia". O líder neopentecostal estava "procurando rola", completou Gaby. Mais adiante, lamentou estarmos "vivendo um momento de muita intolerância. Isso é uma coisa muito escrota. Ninguém pode falar qual a sua sexualidade ou qual é a sua religião".

Caetano Veloso se manifestou após avistar uma cartolina contra Israel e uma faixa onde lia-se "Tropicália não combina com apartheid" -há uma página homônima no Facebook pedindo que ele e Gilberto Gil boicotem o show que farão nesse país em julho.

"Eu digo 'Palestina sim'. 'Israel não' é empobrecedor."

MAIORIDADE

"Aos otários, que ainda querem vir me falar de racismo ao contrário", rimou Emicida, que também disparou contra o projeto de lei que reduz a maioridade para 16 anos. "O mundo quer salvar o jovem, mas não fala em escola, só em cadeia."

Ele havia convocado o público a ir de branco, como forma de protestar contra a intolerância religiosa.

A rapper Karol de Souza foi na mesma toada. "Adolescente de 16 anos tem que beijar na boca, não parar na cadeia."

Ela subiu ao palco com Rico Dalasam, que antes de cantar disse à Folha: "Sou contra a redução da maioridade. Se voltar 15 anos, eu também estava nessa mesma situação. E ainda sou esse quadro que a polícia considera suspeito".

Morador de Taboão da Serra (Grande São Paulo), negro e gay, o rapper ficou conhecido por letras autobiográficas.

"Deixar um menor com enormes possibilidades mofando atrás das grades não tem a menor possibilidade", disse um integrante do Sarau do Burro, evento mensal de poesia. Tentou mobilizar o escasso público com o mantra "Menor menor menor menorme enorme...". Não empolgou.

O que não tinha a menor possibilidade, para Nando Reis, era a "impunidade". Ele falou sobre um assalto em 2007, quando roubaram seu carro e ameaçaram atirar em sua cabeça. "Pensei: 'Sou pai de cinco filhos e vou morrer na frente de um idiota. Detesto gente que toca o terror. A gente tá fodido, só tem impunidade, qualquer um rouba pra caralho e não vai preso."

Já Fafá de Belém brincou que em seu Pará a água era "fresca e cristalina, fora do volume morto", em alfinetada à crise hídrica de São Paulo.


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