Folha de S. Paulo


Virada Cultural ganha em segurança e perde público

A 11ª edição da Virada Cultural, que terminou na noite deste domingo (21) na capital paulista, foi a mais vazia dos últimos anos.

Com menos atrações de peso, o evento teve público menor, que enfrentou menos tumulto -até a galinhada de Alex Atala, concorridíssima em 2012, transcorreu tranquila-, mas também deixou várias atrações às moscas.

O esvaziamento colaborou com a meta da prefeitura de coibir arrastões. A Folha, que acompanhou a Virada com uma equipe de 25 pessoas, testemunhou dois, ante 18 ocorrências do tipo em 2014.

Também não houve registro de feridos, segundo a Polícia Militar, enquanto no ano passado foram sete atingidos por bala e quatro por faca.

No balanço feito pela Secretaria Municipal de Cultura e pela Polícia Militar no domingo, o secretário Nabil Bonduki creditou o deserto da madrugada ao frio e disse que o público geral não ficou aquém das edições passadas.

Mas a impressão geral era outra.

Dona Ivone Lara, que se apresentou na noite de sábado (20) no parque Ibirapuera para uma plateia rarefeita, reclamou do frio de 14 graus.

Outros shows também minguaram. O de Antônio Nóbrega, na praça da República, atraiu no máximo cem pessoas; e quase todas as atrações da avenida Paulista beiravam os 50 espectadores.

Mesmo apresentações mais concorridas, como as de Daniela Mercury, Lenine e Nando Reis, no palco Júlio Prestes, eram pródigas em espaços transitáveis.

Diferentemente de edições anteriores, quando a organização divulgou estimativas de público entre 3 milhões e 4 milhões de pessoas, desta vez nenhum número total será divulgado, segundo Bonduki, que alegou "falta de rigor científico" para tanto.

VINHO GENÉRICO

No total, 73 pessoas foram detidas até o fim da tarde de domingo, por ocorrências em geral relacionadas a tráfico de drogas e crimes contra o patrimônio.

O comandante Gilson Guimarães, da Guarda Civil Metropolitana, relatou 19.145 itens apreendidos, sobretudo de comércio ilegal, como refrigerante, cerveja, água e vinho (como o hit dos genéricos, o Cantinho do Vale).

Entre os problemas desta edição, pontos ermos nos espaços entre os palcos. Muitas das vias sugeridas como rota de segurança (como as avenidas Ipiranga e Rio Branco e a rua Mauá) pareciam tudo menos seguras em trechos com pouca luz à noite.

Várias delas também continuaram liberadas para carros, que circulavam entre o público que estava a pé.

O saldo positivo do menor interesse do público foi que quem se animou a ir para as ruas enfrentou menos filas para os banheiros (que, no entanto, ficaram impraticáveis como sempre) e também para comprar lanches.

Entre os momentos memoráveis deste ano, o show de Hermeto Pascoal no Theatro Municipal, com direito a "olas" no público; a ovação a Fafá de Belém, que recriou seu disco de estreia, "Tamba Tajá" (1976); e a sequência de hits que Caetano Veloso mandou ao encerrar seu show.


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