Folha de S. Paulo


Projeto sobre Rock in Rio pede benefício à Rouanet

A marca Rock in Rio voltou a circular nos corredores do Ministério da Cultura (MinC) atrás de incentivo fiscal. A pasta deu parecer favorável ao pedido para que o "Rock in Rio 30 Anos Box Brasil", projeto multimídia que comemora a virada balzaquiana do festival, levante R$ 5,5 milhões via Lei Rouanet.

Para o "ok" final, ainda falta "apreciação junto à Comissão Nacional de Incentivo à Cultura que, por sua vez, não teve tempo hábil de avaliar o respectivo teor [do box] na reunião realizada no mês de junho", diz a Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura, que cuida da Lei Rouanet.

O parecer favorável chega dois meses após a organização do evento abrir mão de R$ 4 milhões captados com patrocinadores –que poderiam abater do imposto 30% do dinheiro investido, conforme o artigo 26 dessa lei, destinado à "música popular".

A desistência ocorreu após a Folha publicar, no dia 1º de abril, que as entradas custavam R$ 350, embora o Rock in Rio tivesse se comprometido com o MinC a cobrar R$ 260. A diferença de preço foi considerada irregular pela pasta.

Segundo o ministério, o Rock in Rio já devolveu os R$ 4 milhões arrecadados com patrocinadores e que tinham sido aportados em conta aberta para a Lei Rouanet.

No dia 26 de maio, o MinC deu sinal verde para que o selo Musickeria capte os R$ 5,5 milhões –inicialmente, havia solicitado R$ 5,8 milhões.

A Musickeria pertence à holding L21, de Luiz Calainho, que também abriga a feira ArtRio e a Aventura Entretenimento (dos espetáculos "Hair" e "Rock in Rio, o Musical").

Segundo Calainho, a proposta foi sugerida a Roberto Medina, idealizador do festival, em janeiro. "Sem modéstia, o Roberto pirou."

Ao ratificar o montante a ser captado, o MinC destaca que "o projeto terá repercussão nacional" e se enquadra na lei por oferecer preços acessíveis, de R$ 29,90 (DVD) a R$ 89,90 (o caderno com partituras, que teria ainda edição promocional por R$ 50).

Questionado, contudo, o diretor-executivo da Musickeria, Eduardo Julianelli, diz que nenhum preço foi fechado. Ele frisa contrapartidas sociais planejadas, como a doação de fichários com partituras para escolas de música.

O projeto inscrito na Rouanet prevê uma festa de lançamento no Rio, com ingressos de R$ 50 a R$ 150 –10% seriam "distribuídos gratuitamente para instituições de ensino e projetos sociais".

Luiz Calainho não trabalha mais com essa hipótese: planeja "um evento fechado", para formadores de opinião.

ROYALTIES

Luiz Calainho, dono da Musickeria, defende a legitimidade do projeto multimídia sobre os 30 anos do Rock in Rio. "Eu pago royalties para ele [o festival]. Virei um licenciado, simples assim. Como o cara que vende camiseta, o cara que vende bandana, mas algo mais sofisticado."

"Rock in Rio 30 Anos Box Brasil" é um canivete suíço cortando para vários lados: CD com 15 artistas reinterpretando 30 clássicos do festival, sob batuta de Liminha (ex-baixista do Mutantes e produtor de Gilberto Gil e Caetano Veloso); Blu-ray; DVD; almanaque que abrange as edições desde a estreia, em 1985; fichário de partituras; site; aplicativos para tablet (como um que ensina a tocar músicas); serviço pago de streaming. Deve ser lançado no festival, em setembro.

Músicos convidados darão "nova levada" a três décadas de shows, segundo Calainho. Quase certos no repertório: Baby do Brasil (que cantará "Equalize", da Pitty), Skank ("Para Lennon e McCartney", interpretada em 2011 por Milton Nascimento e Esperanza Spalding), Paralamas do Sucesso ("Tempos Modernos", de Lulu Santos, e "Inútil", do Ultraje a Rigor), Cidade Negra ("Vamos Fugir", do Skank) e Blitz ("Sonífera Ilha", do Titãs, e "Óculos", do Paralamas).

Há ainda planos de gravar uma música inédita, com grande elenco, para contar a história do festival que começou a balançar o Rio de Janeiro em 1985.


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