Folha de S. Paulo


Alma dos Smiths, Johnny Marr cobra posição política de artistas e prepara álbum inédito

Se as letras de Morrissey eram o coração melancólico dos Smiths, os riffs de Johnny Marr foram a alma frenética do grupo. Sua guitarra ficou tão associada às melodias da banda que só agora, 27 anos após o fim do quarteto, Marr conseguiu sair da sombra de seu antigo conjunto e recuperar na carreira solo seu intenso ritmo de produção na década de 1980.

Após se apresentar no Lollapalooza em 2014, o guitarrista volta a São Paulo para um show gratuito, neste domingo (21), no Festival Cultura Inglesa, parte da turnê de seu segundo disco solo, "Playland", lançado em 2014. "The Messenger", o primeiro sozinho, saiu um ano antes.

De 1987 até 2013, no entanto, Marr fez muitas colaborações: tocou no Modest Mouse, deu uma palhinha no álbum "Naked", do Talking Heads, e participou do último disco do ex-Oasis Noel Gallagher, por exemplo.

Em entrevista à Folha, por telefone, Marr diz que já tem algumas canções prontas para o terceiro álbum, ainda sem data. Ao mesmo tempo, também escreve uma autobiografia, que deve ser lançada em 2016 pela editora Century.

"Estive tão ocupado trabalhando desde a adolescência que nunca tinha sentado e tirado um tempo para refletir sobre mim mesmo. Escrever fez com que eu me centrasse na minha própria vida."

Garoto prodígio do rock, Marr, hoje aos 51, começou a tocar com os Smiths aos 17 anos. Tinha apenas 23 quando a banda acabou. Ainda muito jovem, ele já havia criado clássicos como "There's a Light That Never Goes Out" e "Meat Is Murder".

Seria um superdotado? Marr nega. "É uma questão de habilidades", resume. Se "sempre soube que tinha algum jeito com a guitarra", porque amigos "costumavam mandar letras" para ele musicar, por outro lado, ele nunca conseguiu "subir em uma árvore ou escalar um muro".

MORRISSEY

Enquanto sua lista de livros de cabeceira inclui títulos sobre o arquiteto Le Corbusier, o pintor Paul Klee e a vertente inglesa da Bauhaus, a autobiografia de Morrissey, best-seller lançado em 2013, está fora da estante. "Tenho uma fila de livros para ler, não sei vocês", resumiu ao jornal "Guardian", em março.

Hoje, quando se deita para dormir, ele diz que não "pensa na vida e na morte", como na letra de "Nowhere Fast", mas em "deixar os fãs orgulhosos". Ao repassar a trajetória, sabe que teve "uma vida bastante incomum" para um rockstar precoce.

"Fiquei famoso muito cedo e só lancei álbuns solo agora. Geralmente estou na banda de alguém, mas posso dizer que agora estou feliz por não estar compondo para os outros."

Vegetariano desde 1983 e vegano –não consome derivados de animais– desde 2005, Marr é um homem que levanta muitas bandeiras.

"Temos um longo caminho até as pessoas terem consciência de como a nossa alimentação afeta o clima. São séculos de desinformação", diz. "Podemos viver perfeitamente no mundo moderno sem carne. Sou um ótimo exemplo. Não como carne desde a adolescência e corro cerca de 8 km por semana."

CAMERON

Outra causa que o guitarrista defende, desde os 1980, é a crítica social à esquerda.

"O socialismo é sobre ser justo. As pessoas não têm mais consciência dos próprios direitos a serviços básicos como saúde, educação", afirma. "Se as estrelas do pop, atores e músicos não se posicionarem nessas questões, então quem vai? É um trabalho dos artistas."

Em 2010, ele passou o pito no primeiro-ministro David Cameron –que usava músicas dos Smiths em inserções na rádio–e pediu que ele parasse de dizer que gostava da banda. Repetiu a bronca em janeiro, quando o político posou vestindo uma camiseta com uma foto do grupo.

"Não posso permitir que esse primeiro-ministro capitalista apareça por aí com a camiseta da minha banda", afirma ele. "Os políticos acham que todos são estúpidos."

JOHNNY MARR NO FESTIVAL CULTURA INGLESA
QUANDO domingo (21), portões abrem às 12h; Johnny Marr se apresenta às 19h, Gaby Amarantos às 17h e o The Strypes, às 15h
ONDE Memorial da América Latina, av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, tel. (11) 3823-4600
QUANTO grátis (com retirada antecipada até 20/6); mais informações no site do evento

GRANDES RIFFS - O que a guitarra de Johnny Marr já criou desde os 80

'How Soon Is Now?'
Melodias grudentas e nada convencionais chegam ao ápice nessa canção que completa 30 anos em 2015

howsoon

Electronic
Com Bernard Sumner, do Joy Division e New Order, Johnny Marr lançou três discos na década de 1990 com batidas eletrônicas

electronic

The Messenger
O primeiro álbum solo de Marr, lançado em 2013, prova que a criatividade do guitarrista evoluiu desde os anos 1980

messenger


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