Folha de S. Paulo


depoimento

Wagner Tiso: 'Fernando Brant agora faz a sua travessia'

O Fernando [Brant] foi o grande poeta da música de Minas Gerais. O mais difícil para mim, agora, é chegar em Belo Horizonte e não ter mais ele como companhia, é profundamente desagradável.

Ele levantou muitas coisas da nossa geração. A nossa turma toda estaca nas músicas que fez. Ele criou o script da nossa geração de Minas Gerais, como em "Canção da América": "Amigo é coisa pra se guardar/ Debaixo de sete chaves". E "Travessia". Ele, agora, faz a travessia dele.

A morte do Fernando Brant é uma perda irreparável. Ele foi um cara muito legal, nunca pensou mal de ninguém. Não admitia que alguém falasse mal de outra pessoa, queria que todo mundo estivesse junto, unido. É a pessoa que vai fazer falta, de fato, nessa história.

Estive com ele há dois anos e meio, três anos. Quando ele fez a letra de "Cafezais Sem Fim", senti que ele estava um pouco triste. Depois, fiz um pedido a ele, e ele não respondeu, fiquei meio assim: "O que está acontecendo?". Sabia que ele já tinha um problema de saúde, mas ele preferia não falar disso. E eu resolvi não perturbar.

Faço trilhas para cinema e, quando precisava de uma letra, falava muito com ele. Trabalhar com ele era muito fácil, muitíssimo fácil. Se eu precisasse de uma música, era só falar "Fernando, preciso disso, disso e disso". E ele logo dizia: "Claro, patrão".

Ele era um dos grandes pilares do nosso Clube da Esquina, jogou nossa musica para o Brasil, para o mundo. Ele e o Milton, principalmente. Fernando era o principal, não deixava acontecer desavenças. Era o que estava sempre cuidando bem de um e de outro, deixando as coisas ruins de lado. Ele era o nosso gregário. Jogava bola, brincava de futebol, um companheirão de tomar cerveja, um grande amigo. E um grande pai de família. Uma pessoa muito dada, mesmo. De abraço fácil, sorriso fácil. A lembrança que tenho dele era essa, jogando bola, se divertindo.

WAGNER TISO é compositor, instrumentista e arranjador. Participou do Clube da Esquina, movimento musical dos anos 1960 que misturava elementos da bossa nova, do jazz e do rock.


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