Folha de S. Paulo


'Jurassic World' ignora descobertas recentes da paleontologia

O melhor jeito de definir a relação entre "Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros" e o que a ciência andou descobrindo sobre os bichos nas últimas décadas é o seguinte: o filme original da série, de 1993, apresentou ao público o que havia de mais avançado nas pesquisas dos anos 1980; e o novo, que estreia hoje, continua preso à imagem dos dinos de 30 anos atrás.

A comparação é do paleontólogo americano Thomas Holtz Jr. (Universidade de Maryland), um dos muitos pesquisadores que se decepcionaram com o look dos bichos na nova etapa da franquia.

E é fácil resumir a principal queixa deles: cadê as penas?

Editoria de Arte/Folhapress

De fato, para irritação de quem não consegue levar a sério dinossauros com aspecto meio carnavalesco, os fósseis adornados com penas se multiplicaram feito um bando de Velociraptor no cio.

Inicialmente, os paleontólogos acharam que o aspecto penoso estaria restrito aos carnívoros de porte modesto, como o próprio Velociraptor. Mas hoje há indícios de que quase todas as espécies do grupo teriam essa cobertura –a exceção talvez fossem os saurópodes, aqueles herbívoros enormes, quadrúpedes e pescoçudos.

Pelo lado positivo, "Jurassic World" mantém o retrato dos dinos como criaturas ágeis, relativamente inteligentes e de vida social complexa, que se comportam mais ou menos como seus descendentes, as aves.

É claro que essas características também são úteis do ponto de vista dramático, porque assim os bichos se tornam protagonistas (e vilões) mais interessantes do que se fossem lagartões lerdos e estúpidos.

TRANSGÊNICOS

O paleontólogo americano Jack Horner, consultor científico da série, chegou a afirmar que o novo astro da série, um dino transgênico batizado de Indominus rex, é mais plausível do que os bichos originais.

Isso porque tecnologias de manipulação do genoma já existem, enquanto ninguém conseguiu (e provavelmente nem conseguirá) obter DNA de dinossauro até hoje.

Bem, mais ou menos. Embora o conceito não seja totalmente estapafúrdio, ninguém ainda faz a menor ideia de como montar do zero e "a gosto do freguês" o genoma de um vertebrado, e muito menos o de um dinossauro assassino.

Apesar das críticas, é quase certo que os cientistas não terão do que reclamar de pelo menos um aspecto do novo filme: o impacto que ele terá sobre os corações e mentes da molecada.

O "Jurassic Park" original, mais do que acertar a ciência, teve como principal feito conjurar a avalanche emocional do contato com um gigante extinto. Ver os monstros de novo na tela é quase tão bom quanto auscultar o coração de um Triceratops.


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