Folha de S. Paulo


Jesuíta Barbosa atualiza personagem folclórico em filme cheio de efeitos

"Minha nossa senhooorrra", exclama o ator Jesuíta Barbosa numa entonação bem caipira durante a filmagem de uma cena. "A nossa vida vale menos do que o que cai na esterqueira."

Ao seu lado no set, de chapéu, estão um Leandro Hassum bem mais magro do que nas comédias que lhe deram fama e, de vestido, Isis Valverde em versão brejeira. Os atores estão num armazém interiorano montado numa antiga fazenda de colonos em Jaguariúna, a 125 km de São Paulo.

O filme "Malasartes e o Duelo Com A Morte", de Paulo Morelli, resgata a figura folclórica do matuto cheio de astúcia e o atira numa trama fantástica repleta de efeitos especiais –espécie de "Tim Burton rural", descreve seu diretor, que espera lançá-lo em dezembro de 2016.

O personagem já rendeu uma adaptação para o cinema, com Mazzaropi (1912-1981) em "As Aventuras de Pedro Malasartes", de 1960. Também foi levado à TV (o "Didi Malasarte de Renato Aragão", em 1998) e inspirou duas óperas nos anos 1930.

Na nova versão cinematográfica, Barbosa faz o personagem-título, que duela contra a Morte, interpretada por Júlio Andrade –que viveu Paulo Coelho em "Não Pare na Pista"–, um dândi de roupas roxas e colete que, cansado do seu trabalho diário de tirar a vida das pessoas, busca obrigar Malasartes a substituí-lo.

"Queria resgatar essa cultura brasileira que anda meio sumida em filmes cada vez mais urbanos", afirma Morelli ("Cidade dos Homens").

Ele gesta o projeto há 28 anos. "A figura do Malasartes é bem brasileira, tem ecos no Jeca Tatu, no João Grilo, até no Macunaíma", diz ele.

Orçado em R$ 10 milhões, o projeto terá de passar por um ano e meio de pós-produção por causa dos efeitos especiais: a Morte habita um universo fantasioso, voa em boa parte das cenas.

"Não me lembro de outro filme brasileiro com tanto efeito especial", diz Morelli, que se inspirou em "O Senhor dos Anéis" e "O Hobbit". "Mas com 5% da verba desses filmes."

SEM SOFRÊNCIA

Jesuíta vem do cinema independente, oriundo da cena do Recife, e despontou na TV aberta como Fortunato, melhor amigo do mocinho (Cauã Reymond) na minissérie global "Amores Roubados" (2014). Encara agora seu primeiro protagonista em longas.

"Este não tem a complicação de problematizar demais", compara ele com seus outros filmes, como "Tatuagem" (2013) e "Praia do Futuro" (2014). "É leve, sem sofrência."

É também a estreia no humor. "Às vezes ele fica inseguro, mas consegue ser engraçado sem exagerar", diz Morelli. "Faz uma coisa meio Chaplin, de andar meio de pé aberto."

Nesse instante, um carro cruza o set. Da porta de trás salta Vera Holtz, de bolsa e óculos escuros. A atriz, que interpreta uma entidade mitológica que rivaliza com a Morte, já vem rindo. "Por que eu topei participar desse filme? Eu adoro fantasia, adoro Harry Potter", conta ela.

O jornalista GUILHERME GENESTRETI viajou a convite da produção do filme

OUTROS MALASARTES

No cinema
Mazzaropi (1912-1981) protagoniza "As Aventuras de Pedro Malasartes" (1960): um caipira inocente que ajuda crianças abandonadas e aplica pequenos golpes

mazzaropi

Na TV
Renato Aragão é Didi Malasarte em especial de 1998 na Globo, com participações de Adriana Esteves e Ary Fontoura

didi

Na ópera
O personagem foi tema de "Pedro Malazarte", de Camargo Guarnieri, com libreto de Mário de Andrade, e "Malazarte", de Lorenzo Fernández e texto de Graça Aranha, nos anos 1930


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