Folha de S. Paulo


Crítica

Peça sobre opressão de Stálin é reduzida por texto panfletário

"Aula Magna com Stálin", no título original, "Master Class", é um texto de teatro redutor e panfletário.

Sobretudo se contrastado à opressão de Chostakóvitch (1906-75) como retratada através de gravações com a voz do próprio compositor, no espetáculo russo "Opus nº 7", apresentado apenas três meses atrás em São Paulo.

Na maior parte do tempo, o que se tem na peça do inglês David Pownall, escrita em 1982, é conflito hollywoodiano entre bem e mal –em que este acaba recebendo até, dada a crescente inverossimilhança, ares farsescos.

Jairo Mattos faz esforço imenso e quase bem-sucedido de apresentar nuances e idiossincrasias em Stálin, com a caricatura de personagem que tem nas mãos.

Mas Luiz Damasceno, como Jdanov, burocrata que comandava a produção cultural soviética no fim dos anos 1940, nem parece tentar, escorregando logo para a farsa com seu personagem especialmente mal desenhado.

Traindo o caráter de panfleto pró-cultura pop ocidental que "Master Class" representava quando foi escrita, apresenta-se no palco, como alternativa de música que os russos no fundo querem ouvir, a canção "Georgia on My Mind", hit do americano Ray Charles nos anos 1960.

Com dramaturgia assim, perde-se muito do esforço grande de produção, com os cenários e figurinos que exploram bem a iconografia soviética. Mas a derrota maior é mesmo do protagonista, Mattos, cuja composição de Stálin, até fisicamente, poderia ser histórica, não se perdesse tanto pelas palavras.

Como personagem, de fato, só vai aparecer perto do final das duas horas e meia de apresentação, quando a tortura psicológica de Chostakóvitch e também Prokofiev (1891-1953) por Stálin se torna menos infantil –quando o mal se racionaliza, monstruoso.

AULA MAGNA COM STÁLIN
QUANDO: QUA. A SEX., ÀS 20H; ATÉ 3/7
ONDE: CCBB - R. ÁLVARES PENTEADO, 112, TEL. (11) 3113-3651/3652
QUANTO: R$ 10
CLASSIFICAÇÃO: 16 ANOS
DIREÇÃO: WILLIAM PEREIRA


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