Folha de S. Paulo


Galã incestuoso de 'Game of Thrones' é protagonista de drama dinamarquês

chance

Se o cinema de Susanne Bier nunca foi digno de maior empolgação, sua ligação com a maior picaretagem da história do cinema, o Dogma 95, a partir de "Corações Livres" (2002), não ajudou em nada.

Os filmes seguintes repetiam algumas características do tão nefasto movimento, sobretudo o péssimo uso da câmera na mão, recurso que, quando bem empregado, pode surtir um bom efeito, mas nos filmes do Dogma é geralmente pensado para irritar ou enjoar o espectador.

Algo do Dogma está presente em "Segunda Chance", seu longa mais recente a chegar às telas brasileiras. Mas desta vez a coisa se sustenta bem. Seja pela força dos atores, por um roteiro melhor construído que o habitual ou por uma saudável imprevisibilidade, o drama nos envolve até o fim.

Conhecemos dois casais. Um deles parece perfeito, como num comercial de margarina: Andreas, o protagonista (Nikolaj Coster-Waldau, o galã incestuoso de 'Game of Thrones') é detetive de polícia. Sua mulher é mãe atenciosa e eles têm estabilidade financeira (vê-se pela casa onde moram).

O bebê desse casal é que parece ter algum problema de saúde. Chora demais e só se acalma com longos passeios (mesmo no frio, durante a madrugada, o que é estranho).

O outro casal parece todo equivocado. O homem passou um tempo na cadeia e não consegue se livrar do vício em drogas pesadas. A mulher aceita uma posição submissa, apanha desse homem e fica impossibilitada de cuidar direito do bebê do casal, pois seu marido a obriga a se drogar com ele.

SOBRIEDADE

Até aí o roteiro parece esquemático demais, e nossa impressão é de estar vendo mais uma obra simplória sustentada pelo status suspeito de "filme de arte europeu", do tipo que é enobrecido por espectadores ocasionais, mas empobrece o cinema.

A trama começa a se revelar melhor quando o detetive do primeiro casal faz uma busca na casa do segundo e vê o bebê deles todo borrado das próprias fezes, morrendo de frio.

Melhor não adiantar o que acontece depois. Os esquematismos vão se escondendo sobre a gravidade dos acontecimentos e as ações de cada personagem tiram nosso chão. A única pessoa sóbria da história é o parceiro alcoólatra do protagonista, e isso percebe-se já na primeira meia hora de projeção.

A direção de Bier alterna momentos de sobriedade com picos de tensão, dominando bem o ritmo. Não é um filme especial, mas é o melhor momento da carreira da diretora.

Segunda Chance
(En Chance Til)
QUANDO: ESTREIA NESTA QUINTA (4)
ELENCO: NIKOLAJ COSTER-WALDAU E ULRICH THOMSEN
PRODUÇÃO: DINAMARCA, 2014, 16 ANOS
DIREÇÃO: SUSANNE BIER


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