Folha de S. Paulo


Após 17 anos, Vera Fischer retorna ao teatro de SP no papel de mulher traída

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Vera Fischer ri alto quando a fotógrafa relembra que a registrou durante a montagem de "Gata em Teto de Zinco Quente", em 1998: "A gente era meio Jurassic Park naquela época", brinca a atriz.

"Naquela época", Vera era a sensual Maggie, a gata, do texto de Tennesse Williams, papel que foi de Elizabeth Taylor no cinema.

"Aquela época", há 17 anos, foi também a última vez em que atuou em um palco paulistano.

Nesse meio-tempo, esteve nas peças "A Primeira Noite de um Homem" (2004), no papel da Sra. Robinson –aquela que seduz o personagem de Dustin Hoffman no filme de 1967–, e "Porcelana Fina" (2006). Em nenhuma fez temporada na capital paulista.

Hoje, aos 63, Vera ressurge no elenco da comédia "Relações Aparentes", que estreia nesta sexta-feira (5) no Teatro Gazeta, na avenida Paulista.

Dirigida por Ary Coslov e Edson Fieschi, ela interpreta uma mulher traída pelo marido e divide a cena com Tato Gabus Mendes, Michel Blois e Anna Sophia Folch no texto do inglês Alan Ayckbourn, conhecido pela veia irônica e a sátira a costumes da classe média.

"Vera é uma atriz muito carismática. E ainda tem essa aura de diva", diz Fieschi. "No bom sentido, é claro."

O tempo longe do teatro, conta Vera, se deu também pela falta de seu "companheiro de palco", Perry Salles, morto em 2009, aos 70 anos –além de trabalharem juntos, foram casados por 16 anos e tiveram uma filha, a atriz Rafaela Fischer, 35.

Em seu retorno, Vera conta ainda sentir um frio na barriga. "Devo dizer: estou nervosa como se fosse o meu primeiro trabalho. O público paulista é muito exigente."

EROTISMO

Habituada a papéis que ressaltam erotismo, a atriz deixou a sensualidade e a beleza de lado em "Porcelana Fina" (2006), quando interpretou uma mãe de família de aspecto desleixado. Uma forma de deixar de lado o estigma da atriz sensual, diz.

Editoria de Arte/Folhapress

Agora, em "Relações Aparentes", dá corpo a uma mulher mais velha às voltas com a traição do marido.

Hoje um dramaturgo cultuado e bastante popular na Inglaterra –tem mais de 80 peças–, Alan Ayckbourn teve em "Relações Aparentes" ("Relatively Speaking", de 1965) seu primeiro sucesso.

A trama, cheia de reviravoltas, é ambientada na Londres dos anos 1960. Greg (Michel Blois) suspeita que Ginny (Anna Sophia Folch), sua namorada, está tendo um caso com outro. Quando ela diz que irá visitar os pais, Greg resolve segui-la.

Chega à casa de um casal mais velho, que ele acredita serem os pais da moça. Mas trata-se de Sheila (Vera) e Philip (Tato Gabus Mendes), o amante de Ginny.

"Acho que o personagem da Vera é o mais difícil do texto. Ela engole a traição do marido, mas é uma coisa muito cruel", diz Gabus Mendes.

"Já conhecia o trabalho de Ayckbourn, vi várias coisas. Mas essa peça tem um ritmo especial", relata Vera, que destaca a ironia do texto.

Avessa a métodos de pesquisa de personagens, a atriznão faz preparações antes de entrar em cena. Diz não se alinhar a teorias como a do russo Constantin Stanislaviski (1963-1938), que prega a pesquisa de aspectos psicológicos do papel. "Isso é coisa do passado. Eu não faço pesquisa, é tudo nos ensaios. Sou muito autodidata", explica.

Gabus Mendes é o único ator que participou da temporada do espetáculo no Rio de Janeiro, no ano passado.

Para estrear em São Paulo, o elenco foi reformulado. "E então surgiu a ideia de chamar a Vera. E também fazer a reestreia dela no teatro", diz o diretor Edson Fieschi.

SUSTO

"Eu levei um susto quando me convidaram para 'Relações Aparentes'. Geralmente ninguém vai atrás de mim. Sou eu que procuro, que produzo", conta a atriz, que recentemente teve dificuldade em produzir uma peça de sua autoria, "Como Ser Feliz Depois dos Sessenta".

"Eu tentei muito, mas não consegui. Ainda estou buscando, mas estou vendo como os artistas estão sofrendo com a falta de patrocínio."

O texto, explica a atriz, mostra um amor de um casal depois dos 60 anos. Ainda assim, ela ressalta, não há nada de autobiográfico. "Claro que imaginam que é por causa da minha idade. E as pessoas sabem a minha idade porque eu eu nunca menti. Ou então elas fazem as contas, né?"

Vera, aliás, parece ter se voltado mais para os palcos. Conta que aproveitou a temporada em São Paulo de "Relações Aparentes' para negociar, na cidade, a produção de novos textos –não revela quais, para "ninguém roubar".

Também se afastou da televisão. Seu último trabalho foi na novela "Salve Jorge" (2012), de Glória Perez, no papel da vilã Irina.

"Saí um pouco das novelas porque acho que foram muitos anos [de televisão]. Queria mostrar para o público que dá para fazer outros papéis além da mocinha, da vilã."

Ainda assim, no mês passado a atriz renovou por mais dois anos o seu contrato com a TV Globo. Não tem projetos fechados, mas espera fazer algo voltado ao humor.

RELAÇÕES APARENTES
QUANDO sex., às 21h, sáb., às 20h, dom., às 18h; até 26/7
ONDE Teatro Gazeta, av. Paulista, 900, tel. (11) 3253-4102
QUANTO R$ 70 a R$ 80
CLASSIFICAÇÃO 10 anos


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