Folha de S. Paulo


Em crise, Cinemateca perde 50% dos funcionários

Em meio a uma crise administrativa que se arrasta desde 2013, a Cinemateca passará por mais uma redução em seu quadro de funcionários.

A partir de segunda (1º), a instituição responsável pelo acervo cinematográfico do país, sediada na Vila Clementino, na zona sul de São Paulo, será mantida por metade dos cerca de 80 funcionários que hoje trabalham lá.

Danilo Verpa/Folhapress
Fachada da Cinemateca Brasileira, em São Paulo
Fachada da Cinemateca Brasileira, em São Paulo

O laboratório de imagem e som, responsável pela restauração de títulos, por exemplo, ficará com apenas duas pessoas –hoje há sete. Só uma pessoa cuidará da catalogação, hoje tocada por seis.

A orientação que os funcionários restantes receberam da nova diretora, Olga Futemma, é a de manter o atendimento ao público, ou seja, responder a pedidos de pesquisadores, manter a biblioteca aberta e exibir filmes. Até 15/6, a Cinemateca faz uma retrospectiva de filmes do cinema novo.

O encolhimento se segue a outras reduções –há dois anos, havia o triplo de trabalhadores– e é resultado de um remendo feito em 2014 pelo Ministério da Cultura, responsável pela Cinemateca. Na época, a pasta era comandada por Marta Suplicy; hoje, o ministro é Juca Ferreira.

Para contratar os funcionários que deixam a casa agora, o Ministério da Cultura havia recorrido a um convênio com a RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa), organização social ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia que, entre outros projetos, implanta cinemas em universidades e exibe filmes do acervo da Cinemateca. Nesta sexta (29), acaba o contrato entre a Cultura e a RNP.

Segundo João Brant, secretário-executivo do Ministério da Cultura, a Cinemateca será mantida "com os serviços da sua equipe do quadro efetivo".

AUDITORIA

Até ser deflagrada a crise de 2013, a Cinemateca era gerida por meio de uma entidade sem fins lucrativos, a SAC (Sociedade Amigos da Cinemateca). Mas o Ministério da Cultura congelou repasses à SAC em fevereiro daquele ano, quando a Controladoria-Geral da União abriu uma auditoria para investigar convênio entre os órgãos que havia movimentado R$ 105 milhões.

Agora, a solução para contratar funcionários após o fim do convênio com a RNP será valer-se de outra organização social, desta vez ligada ao Ministério da Educação, mas com recursos do próprio Ministério da Cultura. É a Acerp (Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto), que geriu a emissora pública TVE no Rio de Janeiro.

"Não há posição definitiva sobre isso", afirma Brant. Ismail Xavier, professor de cinema da USP e conselheiro da Cinemateca, avalia o mecanismo como "emergencial" e "de transição".

A longo prazo, o que o Ministério da Cultura quer é criar uma nova organização social para gerir a Cinemateca, processo iniciado na gestão passada por Marta. Segundo Brant, a proposta de criação da organização está em análise técnica e jurídica.

As organizações sociais são entidades privadas que fazem contratos de gestão com o governo e têm autonomia administrativa. O PT era historicamente contrário ao modelo, visto como uma forma de privatização indireta, mas vários de seus políticos em cargos do Executivo vêm o adotando.

À Folha, em fevereiro, Juca Ferreira defendeu o mecanismo. "Não existe só o uso da OS para privatizar. Pode ser também para agilizar a administração pública", afirmou.


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