Folha de S. Paulo


Grupo pop se destaca no Líbano ao cantar sobre amor gay

mashrou

"Cheire o jasmim. Queria ter te mantido perto de mim, te apresentado aos meus pais. Cozinhado sua comida, varrido sua casa. Mimado seus filhos", canta Hamed Sinno, gemendo por entre seu bigode de Freddie Mercury, dirigindo-se a outro homem.

Sinno é vocalista do libanês Mashrou' Leila (programa noturno), uma das bandas independentes de maior projeção no mundo árabe –que grava, nestes meses, seu próximo álbum.

Saídos do subterrâneo de Beirute, em um país onde homossexuais por vezes são perseguidos, inclusive pelo Estado, o Mashrou' Leila é considerado hoje um ícone do pop árabe de sua geração.

Divulgação
A banda libanesa independente Mashrou’' Leila
A banda libanesa independente Mashrou' Leila

Foi a primeira banda do Oriente Médio a ser capa da edição regional da revista "Rolling Stone - Middle East", no ano passado. Em julho, vai tocar em cidades europeias.

A reportagem da Folha visitou esses jovens –todos arquitetos, exceto Sinno, que é designer gráfico– em seu estúdio no centro da capital.

A entrevista foi conduzida enquanto sons desconexos escapavam da sala de gravação, onde eles preparavam seu quarto disco, sem nome. A música "3 Minutes" já está disponível no YouTube.

Será o primeiro álbum da banda desde que, há dois anos, deixaram seus empregos para viver de música.

"Nós decidimos que tínhamos que largar tudo o que tínhamos", afirma o guitarrista Firas Abu-Fakher –aos 27 anos, o caçula da banda. "Foi assustador. Se não funcionasse, teríamos que voltar para os nossos empregos."

O Mashrou' Leila produz seu quarto álbum, porém, com o conforto de quem já conquistou seu espaço. Desde a estreia em 2008, a banda encantou no país com sua personalidade forte para o mercado pop árabe, visto como demasiado superficial.

"Nós cantamos sobre a batalha diária em Beirute, onde negociamos diariamente nosso espaço", afirma Abu-Fakher. "São sentimentos como a solidão diante da estrutura social, coisas que nos formam como humanos."

O sucesso da banda, afirma o violinista Haig Papazian, não tinha precedente. "Não havia bandas libanesas cantando em árabe que cruzassem a fronteira entre subterrâneo e mainstream."

O terceiro disco foi produzido com a doação de fãs, por meio da campanha "ocupe o pop árabe". "A ideia era que as pessoas apoiassem as bandas", afirma Papazian.

O próximo álbum deve ser lançado em novembro, com influência eletrônica, desviando-se de discos anteriores. "Artistas hoje não experimentam", diz o violinista.

Mas o quarto trabalho da banda manterá uma das características que a empurraram para fora dos subterrâneos de Beirute: letras sobre o cotidiano, sobre as experiências de seus membros.

"Muitas pessoas se identificam com nossas músicas porque representam a realidade delas", diz Papazian.


Endereço da página: