Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Exposição retrospectiva destaca ousadia de Geraldo de Barros

No princípio era a pintura. Assim como grande parte dos artistas que passaram da produção moderna para a contemporânea, Geraldo de Barros (1923-1998) começou sua carreira usando os pincéis.

Contudo, o percurso da ótima retrospectiva de sua obra, "Geraldo de Barros e a Fotografia", em cartaz no Sesc Belenzinho, em parceria com o Instituto Moreira Salles, não se inicia com seus primeiros trabalhos nas telas, mas com uma espécie de reencenação de um dos momentos mais significativos de sua carreira: a exposição "Fotoforma", realizada no Masp, quando o museu ainda ocupava o primeiro andar da sede dos Diários Associados, em 1951.

É realmente impressionante como a mostra foi ousada, apresentando até mesmo fotografias recortadas e amparadas em pedestais, como se fossem esculturas.

Geraldo de Barros
Fotoforma, estação da Luz, São Paulo, Brasil, c. 1949 Fotografia em papel de gelatina/prata (superposição de imagens no fotograma) Tiragem em 2006 Acervo Sesc de Arte Brasileira Imagem faz parte da exposição Geraldo de Barros e a fotografia, no IMS Rio ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Fotografia em papel de gelatina/prata (superposição de imagens no fotograma) Imagem faz parte da exposição Geraldo de Barros e a fotografia, no IMS Rio

TOM RADICAL

É com esse tom radical que a retrospectiva, com curadoria de Heloisa Espada, segue a partir de então com um percurso do artista de maneira cronológica, apresentado entre as primeiras obras um autorretrato do artista.

É inegável, no entanto, que a pintura de 1947, um tanto convencional, ganha outro contorno a partir do impacto do experimentalismo da primeira sala.

A ampla exposição, com 258 obras, abarca as distantes e variadas produções importantes de sua carreira como artista: as fotografias realizadas a partir de 1946, quando adquire sua primeira câmera; a série das "Fotoformas", realizada a partir das múltiplas exposições na mesma chapa fotográfica; as pinturas concretas dos anos 1950; as obras pop dos anos 1970; a série "Sobras", dos anos 1980.

Em cada uma dessas fases, a curadora selecionou peças significativas, nas quais é possível vislumbrar algumas particularidades de sua poética, como a influência das aulas de gravura que teve com Lívio Abramo –o que certamente estimulou o desenho realizado em alguns negativos fotográficos.

Além de um começo potente, a mostra se encerra com um conjunto de impacto: a série completa de 268 colagens de negativos e positivos sobre vidro, realizado pelo artista no fim de sua carreira.

Inovador, esse trabalho, junto a 70 ampliações das colagens, atesta o que se viu já na primeira sala: Barros é um dos mais radicais criadores em artes visuais na segunda metade do século 20 no país.

GERALDO DE BARROS E A FOTOGRAFIA
QUANDO de ter. a sáb., das 10h às 21h; dom., das 10h às 19h30; até 31/5
ONDE Sesc Belenzinho, r. Padre Adelino, 1.000, tel. (11) 2076-9700
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO ótimo


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