Drama com alguma dose de suspense, "O Vendedor de Passados" é uma adaptação livre do romance homônimo do escritor angolano José Eduardo Agualusa.
A figura central é Vicente (Lázaro Ramos), que se dedica a uma atividade inusitada: forjar passados verossímeis a uma clientela geralmente solitária, que assim pode "superar" antigas frustrações e ganhar autoconfiança.
AO GOSTO DO FREGUÊS
A partir de fotografias antigas, que manipula no computador, Vicente cria histórias de vida ao gosto de cada freguês.
Mesmo parecendo um disparate, o argumento tem interessantes possibilidades dramáticas e um grande potencial crítico em relação a fenômenos contemporâneos, como a sociedade do simulacro, do culto à aparência como representação.
A vida de Vicente muda quando uma mulher esquiva, enigmática (Alinne Moraes), lhe pede que invente um passado partindo do zero, sem qualquer restrição e com apenas uma exigência: que tenha cometido um crime. Ela não dá qualquer explicação a Vicente, nem mesmo seu nome.
Essa excessiva liberdade para criar atrapalha Vicente, que demora mais do que o normal para realizar o trabalho. Ao mesmo tempo, a aura de mistério que cerca a moça –que ele resolve chamar de Clara, contraposição bem-humorada às sombras que a rodeiam– acaba fascinando o rapaz, que se envolve com ela.
Por outro lado, Vicente também sofre do mesmo tipo de angústia existencial de seus clientes. Filho adotivo, sua origem é misteriosa.
SIMULACROS
As explicações que sua mãe lhe dá –baseadas em imagens de uma fita de vídeo– podem muito bem ser uma manipulação.
Isto levanta um problema. Todos os personagens parecem simulacros, desconfiamos de todos. Se tudo é manipulação, onde está a verdade? Pior: para que serve a verdade?
Essas perguntas ficam sem resposta, pois o roteiro se perde, não aprofunda nada, revelando-se muito abaixo das possibilidades abertas pelo argumento.
O VENDEDOR DE PASSADOS
DIREÇÃO Lula Buarque de Hollanda
ELENCO Lázaro Ramos e Alinne Moraes
PRODUÇÃO Brasil, 2015, 12 anos
QUANDO em cartaz
AVALIAÇÃO regular