Folha de S. Paulo


Cannes reage com vaias e aplausos a novo filme do diretor de 'A Grande Beleza'

Ganhador do Oscar de filme estrangeiro por "A Grande Beleza", há dois anos, o italiano Paolo Sorrentino não teve uma recepção unânime na première mundial de seu novo filme "Youth", nesta quarta-feira (20).

O drama protagonizado por Michael Caine e Harvey Keitel foi entusiasticamente aplaudido e vaiado na mesma proporção durante a sessão da competição oficial pela Palma de Ouro.

Sorrentino é um diretor que divide plateias. Seu estilo extravagante, as inserções plásticas e os arroubos técnicos exagerados não são apreciado por todos. Em "A Grande Beleza", essas características combinaram com o cinismo do personagem principal e da Roma decadente e fantasiosa que ele caminha.

Divulgação
Cena do filme
Cena do filme "Youth", do diretor Paolo Sorrentino

Mas elas não funcionam tão bem em "Youth", um filme que exige uma mão mais delicada e mais emocional do que técnica. Em vez de concentrar-se nas questões levantadas pelos seus protagonistas, um veterano diretor de cinema (Keitel) e um maestro aposentado (Caine), Sorrentino tenta jogar o máximo possível de informações e personagens secundários que representam estágios diferentes do envelhecimento.

Utilizando em um retiro de luxo na Suíça que serve de hotel para modelos, astros do futebol (outra vez, há uma "homenagem" à Maradona, maior ídolo do italiano) e artistas em geral, o cineasta exagera nos números musicais que parecem um ensaio para a Vogue e atrapalham a imersão na trama.

DE CABEÇA

Essa imersão seria necessária para acompanhar Caine tentando superar a distância da mulher e como seus erros levaram às inseguranças da filha (Rachel Weisz), sem dúvida a melhor linha narrativa de "Youth".

Ele recusa voltar a trabalhar até mesmo para a Rainha da Inglaterra e está entregue à apatia que divide com o amigo interpretado por Keitel. Ele, por sua vez, tenta se manter vital com um grupo de jovens roteiristas preparando sua nova "obra-prima".

O cinismo de Hollywood não combina com o drama que o desgaste mental e artístico traz e isso prejudica ainda mais "Youth". Mas Michael Caine disse, na primeira entrevista à imprensa mundial, que "ama tanto o filme, que faz questão de viajar com ele por todo o mundo" e não tem problemas de tratar sobre o tema da velhice.

"A outra alternativa seria interpretar uma pessoa morta", brincou o inglês. "Descobri que estava velho quando li um roteiro pensando no amante, mas eles queriam que fizesse o pai."

Mas Caine passa boa parte do tempo com o corpo à mostra no filme, seja na piscina, seja em massagens esquisitas. "Não me importo em mostrar, porque é o único corpo que tenho. Essa é a realidade do envelhecimento. Para quem não chegou ainda na velhice, não banque os espertinhos. Vocês vão ficar iguais", disparou para ganhar gargalhadas na sala de coletivas.


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