Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Texto da peça 'Chuva Constante' desafia raciocínio da plateia

Quando estreou na Broadway, seis anos atrás, essa peça "noir" quebrou recorde de bilheteria ao juntar celebridades de cinema, Hugh Jackman e Daniel Craig, como policiais em conflito.

Mas eram bem mais que celebridades no palco: vinham de carreiras consagradas em Londres, Jackman por musicais, Craig, entre outras, pela histórica "Angels in America".

Malvino Salvador e Augusto Zacchi não têm tanto currículo, é claro, mas surpreendem quem chega cético ao teatro, em São Paulo, para vê-los no intrincado texto de Keith Huff, ele também uma celebridade hollywoodiana –era já então roteirista e produtor de "Mad Men".

A produção, originalmente do Rio, é inesperadamente uniforme e contida, a começar da atuação, resistindo aos excessos que os diálogos parecem pedir.

A própria resistência faz aumentar a tensão, resultando numa apresentação em que a atenção do espectador é contínua, como diante de um suspense de cinema, e abala os próprios atores –ao menos Salvador, no dia acompanhado pelo crítico.

Muito do resultado deve ser creditado ao diretor Paulo de Moraes, responsável por um dos grandes espetáculos de 2014, "O Dia em que Sam Morreu", semelhante pelo pano de fundo de violência e pela discussão ética.

Na verdade, Moraes parece tirar até mais do que o original de "Chuva Constante", excessivamente televisivo, principalmente em seu ritmo, tinha para dar.

O cenário é mínimo, também os figurinos; os vídeos nada têm de padrão global: tudo se concentra nos diálogos e solilóquios interpretados por Zacchi e Salvador. Não fosse o teatro Vivo, na zona sul de São Paulo, e poderia passar por um espetáculo do Baixo Augusta.

Moraes e seus atores não deixam o raciocínio do espectador se decidir contra nenhum dos policiais, ambos personagens questionáveis, criminosos, corruptos, cruéis, amigos que traem um ao outro. Remoem qualidades e defeitos de um e de outro, em espiral.

CHUVA CONSTANTE
QUANDO sexta, às 21h30; sábado, às 21h; domingo, às 18h. Até 31 de maio
ONDE Teatro Vivo - av. Chucri Zaidan, 860, tel. (11) 97420-1520
QUANTO R$ 60 (sex. e dom.) e R$ 80 (sáb.)
AVALIAÇÃO muito bom


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