B.B. King morreu aos 89 anos, às 21h40 desta quinta (hora local, 1h40 da sexta no Brasil), em sua casa em Las Vegas, enquanto dormia. A mais simpática e trabalhadora lenda do blues foi vítima das consequências de diabetes, doença da qual sofreu por quase 30 anos.
Deste 1951, quando conseguiu seu primeiro sucesso no topo das paradas de blues, "Three O'Clock Blues"', King excursionava incessantemente. Chegou a dar mais de 330 shows por ano na década de 1970.
Quando completou 70 anos, anunciou que diminuiria o ritmo de trabalho. Na prática, passou a marcar "apenas" cerca de 200 shows por temporada. Há mais de uma década se apresentava sentado, e a cada ano tocava e cantava por um tempo menor no palco, preenchendo o show com histórias engraçadas e galanteios às garotas da plateia. Seu último show em Las Vegas foi em setembro do ano passado, no festival Big Blues Bender.
O guitarrista morava desde 1975 na cidade para a qual foi trazido por Frank Sinatra nos anos 1960. Foi apresentado a todos os donos de casas de shows por Sinatra, que trabalhou muito para que artistas negros fossem contratados pela cena de entretenimento de Vegas.
King gravou mais de 80 discos e teria subido ao palco cerca de 15 mil vezes. Ele creditava a essa rotina de trabalho o fracasso de seus dois casamentos, com Martha Lee Denton (de 1946 a 1952) e Susie Carol Hall (1958 a 1966). Ele teve 15 filhos e deixa mais de 50 netos.
O guitarrista tocou várias vezes no Brasil. Seu último show foi em 7 de outubro de 2012, no Bourbon Street, em São Paulo. Disse na ocasião que já fizera mais de 50 shows no país e prometeu voltar.
PLANTAÇÃO
King nasceu em 16 de setembro de 1925 numa plantação de algodão em Itta Bena, perto da cidade de Indianola, no Mississippi. Adolescente de voz suave, cantava com a mãe na igreja e, quando conseguiu sua primeira guitarra, foi para as ruas cantar por moedas atiradas em seu chapéu. Seu primo Bukka White já era um bluesman de destaque em Memphis e levou o garoto para lá
Além de músico, também trabalhou em programas de rádios locais. Foi como DJ que ganhou o apelido de Beale Street Blues Boy, depois reduzido para B.B. King.
Buddy Guy, outro guitarrista lendário de blues, dizia que King era o melhor de todos porque deslizava os dedos de sua mão esquerda pelas cordas sem parar. "Nós paramos para marcar o acorde. Ele não, e não me pergunte como consegue."
Eric Clapton, discípulo declarado, afirmou em 1999 que nunca viu alguém que tocasse tão naturalmente. "Ele adorava contar histórias e fazia isso sem parar de tocar, por horas. Era como se tocar fizesse parte de sua respiração."
Após o anúncio da morte, Clapton lamentou, em vídeo postado na rede. "Restam poucos que consigam tocar de um jeito tão puro". Do presidente Obama ("O blues perdeu o seu rei, e a América perdeu uma lenda") ao guitarrista Jack White ("Estou arrasado"), passando pelo ator de "House" e agora músico Hugh Laurie ("Foi o maior guitarrista de todos"), muitos repercutiram a perda.
Nomes como Clapton, Rolling Stones e U2 levaram King às gerações mais novas, que garantiram a agenda farta de shows, mesmo depois que o guitarrista ampliou suas atividades como dono de casas noturnas. Ele abriu a rede B.B. King's Blues Clubs em Memphis, em 1991. Chegou a abrir uma filial em Vegas, no hotel Mirage, em 2009, que fechou três anos depois. Antes disso, em 2008, foi inaugurado um museu sobre ele em Indianola.
A casa dele em Las Vegas é afastada do centro, numa área de mansões em Rancho Circle, e faz parte de roteiros de city tours pela cidade dos cassinos. A policia decidiu não permitir a rota pela rua nesta sexta (15).
Em dois pontos de embarque para turistas, agentes e motoristas das city tours não sabiam da morte do seu lendário morador.
DOENÇA
B.B. King passou quatro dias hospitalizado, no ínicio de abril, após sofrer desidratação como complicação da diabetes tipo 2, da qual sofria havia mais de 20 anos.
Nas últimas semanas, o artista esteve no centro de um conflito entre uma de suas filhas e seu empresário pela forma como estava sendo atendido.
De acordo com o site TMZ, Patty King, filha do músico, considerava que o pai estava recebendo tratamento inadequado e chamou a polícia depois que seu empresário, Laverne Toney, se negou a internar B.B. King em um hospital.
Em outubro passado, o músico teve de abandonar um espetáculo diante de um quadro de desidratação e esgotamento, o que provocou a suspensão do restante de sua última turnê.
O jornalista THALES DE MENEZES viajou a convite do festival Rock in Rio Las Vegas