Folha de S. Paulo


Fundação Prada abre centro de arte em Milão

A Fundação Prada vem promovendo exposições em armazéns e igrejas abandonadas de Milão há mais de 20 anos, levando artistas contemporâneos como Anish Kapoor e Michael Heizer ao conhecimento do público italiano.

Recentemente, porém, a entidade decidiu criar espaços permanentes para exposições e para exibir seu próprio acervo artístico, composto principalmente de obras dos anos 1950 até hoje.

Quatro anos atrás a fundação abriu um centro numa mansão do século 18 no Grande Canal de Veneza. Agora ela deita raízes numa antiga destilaria em um bairro industrial decadente de Milão.

O arquiteto holandês Rem Koolhaas e sua firma, a OMA, criaram um complexo amplo com quase 11 mil metros quadrados de espaço para exposições. "Depois de mais de 20 anos produzindo mostras em todo o mundo, meu marido disse que era hora de fazermos algo permanente em Milão", comentou Miuccia Prada.

Seis meses atrás a Fundação Louis Vuitton abriu um centro de artes em Paris. O projeto foi de Frank Gehry e custou estimados US$ 143 milhões. Agora a Prada está dedicando um espaço ainda maior às artes em Milão.

Isso acontece em um momento em que dinheiro privado de marcas de artigos de luxo está começando a preencher o vazio deixado pelos cortes de despesas governamentais. Ao mesmo tempo, essas empresas descobrem que ter uma associação com o mundo da arte ajuda a incrementar sua marca e sua influência.

"Do mesmo modo como a Louis Vuitton abriu sua fundação em Paris, a Prada está consolidando a percepção exclusiva de que marcas como a dela trabalham com coisas belas", comentou Luca Solca, analista de artigos de luxo junto à Exane BNP Paribas em Londres. "E a ligação com a arte é uma extensão natural disso."

Milão pode ser um centro para a moda e o design de móveis, mas não é conhecida pela arte contemporânea ou o tipo de exposição que atrai plateias internacionais.

O espaço inclui um teatro para sessões de cinema, performances ao vivo e palestras (Roman Polanski criou um documentário para a inauguração), um bar milanês à moda antiga criado pelo cineasta Wes Anderson, um centro para crianças, e a intenção é que venha a ter uma biblioteca grande.

Inaugurado em 9 de maio, o centro fica aberto sete dias por semana e o ingresso geral custa € 10.

Executivos da Prada se negam a revelar o custo do projeto, mas pessoas familiarizadas com ele dizem que custou menos que o centro da Louis Vuitton. O complexo, que levou sete anos para ficar pronto, inclui imóveis industriais justapostos com construções novas e dramáticas.

Num dia recente de primavera, Rem Koolhaas examinava a construção. "As pessoas falam em preservação e em arquitetura nova", ele comentou. "Mas isto daqui não é nem uma coisa, nem a outra. Aqui o novo e o antigo se encaram, em um estado de interação permanente. A intenção não é que sejam vistos como uma coisa só."

Alguns dos espaços estão como Koolhaas os encontrou; outros foram reconfigurados, mas aparentam não ter sido tocados. Os prédios novos são feitos de vidro, concreto branco e um alumínio que foi "explodido", na descrição do arquiteto, para exibir uma superfície aerada como espuma.

O logotipo da Prada não está presente na fachada. Miuccia Prada e seu marido, Patrizio Bertelli, disseram que conservam seu apoio às artes separado da marca Prada e que não descrevem a nova sede como um museu.

O programa inaugural da fundação é ambicioso. Estão expostas dezenas de obras, incluindo pinturas, fotos, desenhos, instalações e esculturas, todos organizados dentro de momentos da história da arte que Miuccia Prada considera serem relevantes hoje.

Isso inclui o minimalismo americano, o conceitualismo, a "land art" e trabalhos de Walter de Maria, Ed Kienholz, Bruce Nauman, Joseph Cornell e Pino Pascali. Também há figuras mais jovens, como a escultura e animadora de filmes sueca Nathalie Djurberg.

Uma das mostras, "Serial Classic", é organizada pelo historiador Salvatore Settis e vai explorar os conceitos de original e imitação, usando antiguidades romanas que são, na realidade, reproduções de originais gregos.

Há trabalhos cedidos por 40 museus. Haverá ecos de arte da antiguidade na fachada de um dos prédios, uma estrutura de quatro andares que Koolhaas batizou de "casa mal-assombrada" por estar muito dilapidada quando a encontrou.

Hoje a parte externa da construção é belíssima, com detalhes folheados a ouro, trabalho feito por artesãos treinados na técnica antiga de esfregar quadradinhos de ouro sobre uma superfície.

Prada disse que a escolha do ouro "confere importância a algo muito modesto" e que, com o tempo, a superfície ganhará uma pátina macia, como a de uma escultura da antiguidade.

Koolhaas explicou que, com as mudanças na luz ao longo do dia, o ouro lançará reflexos sobre as construções em volta. "Milão é como uma panqueca, com poucos elementos elevados", disse o arquiteto. "O ambiente é cinza. Precisava de um pouco de cor."

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