Folha de S. Paulo


Comunidade de Paraisópolis aprova início de novela 'I Love Paraisópolis'

"Ah, tia, não dá pra filé-mignon fingir que é mortadela, né?", diz Bruna, "como a Marquezine, só que é da Silva mesmo". Bruna da Silva, 14, tem chapinha no cabelo e olhos fixos no iPhone 5S que o irmão comprou para ela de aniversário –até mesmo quando a atriz xará aparece no telão.

Protagonista de "I Love Paraisópolis", novo folhetim das 19h da Globo, Marquezine gravou uma mensagem para a comunidade, que assistiu ao primeiro capítulo no teatro Hebe Camargo, no CEU Paraisópolis, na zona oeste de São Paulo.

"Espero que vocês gostem, se identifiquem", diz a atriz, mandando beijinho com a mão. Bruna, a da Paraisópolis real, acha engraçado pensar na "namorada do Neymar" (a global é ex do craque) interpretando meninas como ela –sonhadoras, "doidinhas pra conhecer um príncipe rico".

A esteticista Maria Lúcia, 52, saiu convencida com a performance da atriz principal, nascida em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. "Mostra direitinho como a gente é", diz ela, moradora há 27 anos da comunidade, "desde quando só tinha bar aqui".

Ernesto Rodrigues/Folhapress
São Paulo - SP - Brasil - 11/05/2014 : I LOVE PARAISOPOLIS : Apresentação do primeiro capitulo da novela
Moradores da comunidade assistem a cena com a atriz Bruna Marquezine do primeiro capítulo da novela 'I Love Paraisópolis'

Muita coisa mudou, e vai mudar ainda mais a cada "reclame do plim-plim", acredita. Maria, que cobra R$ 100 pra fazer massagem em domicílio. Só ficou injuriada com a cena em que a vilã Soraia (Letícia Spiller) torce para que uma bomba varra Paraisópolis do mapa.

"Os ricos não gostam que a gente viva aqui. Desvaloriza o apartamento deles. Podia valer três milhões, agora só vale dois", ironiza, em referência aos vizinhos do Morumbi. Com capacidade para 200 pessoas, o teatro do CEU lotou com a sessão de estreia da novela.

As luzes se apagam às 19h37, e Marizete (Marquezine) e Danda (Tatá Werneck) aparecem nas primeiras cenas, gravadas em Nova York. O público ri, sobretudo com as trapalhadas de Danda, como quando ela briga com um freguês numa lanchonete.

"Chapa quente é pipoca na minha goela", diz Carlos Eduardo da Silva, o MC Carlinhos, 10, na fila para pegar pipoca. O garoto diz que, para a novela parecer de verdade, tem de incluir gírias da comunidade. Tipo "ursa", que quer dizer "periguete que rouba homem da amiga", explica.

Para Maria Emanuellen, 13, é "incrível e estranho" saber que sua vida dá novela. Ela quer ser pediatra quando crescer, coisa que não costumam perguntar a ela.

"Antes, a TV só dava tragédia, só dava 'ruim'. Pelo menos uma vez na vida alguém vai mostrar como as pessoas são mesmo, e não um monte de contrabandista", diz a menina, que gosta de cantar reggae e faixas da trilha sonora de "Cinquenta Tons de Cinza".

"Se todos forem como o Caio Castro, aí a gente discute", diz Maria Rita, 15, que sonha em esbarrar com o ator pelas vielas da comunidade e mostrar "todo o love" que Paraisópolis tem por ele.


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