Folha de S. Paulo


Em clima de devoção, Maria Ribeiro filma reencontro de Los Hermanos; assista

Assista

Em uma das cenas do documentário sobre o grupo Los Hermanos, que estreia nos cinemas na próxima quinta (14), a diretora Maria Ribeiro aparece sentada no chão de uma sala, com várias pessoas, ouvindo os integrantes da banda contando histórias engraçadas de suas turnês.

A cena é emblemática. No filme "Los Hermanos - Esse É Só o Começo do Fim da Nossa Vida" transparece uma ansiedade de fã, uma admiração, um clima de devoção ao grupo.

Em seu primeiro documentário, "Domingos" (2011), o tema de Maria era o cineasta e diretor de teatro Domingos Oliveira, que foi influência forte em sua vida. Sua ligação com os Hermanos é diferente.

"A gente é contemporâneo da PUC, eu os vi começando, mas nunca fomos próximos", diz Maria, 39, lembrando que usou o disco deles "Bloco do Eu Sozinho" (2001) como trilha sonora em um curso. "Não era amizade, isso de ir na casa dos outros."

Ela aponta que seu foco no filme foi a despedia da juventude. "Deles e minha, que estava atrelada às músicas da banda. As canções falam coisas muito diretas para quem está começando uma outra fase na vida."

Há um tom de melancolia em alguns trechos do filme. "É triste também. É descobrir até quando você pode seguir para a maturidade mantendo a sua turma de amigos. É uma melancolia subliminar, minha."

A diretora acompanhou alguns shows da turnê de reunião da banda, em 2012. Separados desde 2007 –exceto em um ou outro show esporádico–, eles cumpriram apresentações por 12 cidades brasileiras. Maria os seguiu em algumas. Hoje os integrantes estão separados.

"Sou fissurada em filme de banda. Queria fazer cinema direto, como o documentário 'Don't Look Back', que D.A. Pennebaker filmou com Bob Dylan em 1965. Queria as pessoas no ônibus da turnê, olhando pela janela. Nem sempre é na hora que todo mundo está ativo que você capta as coisas."

Maria Ribeiro faz muita coisa. Deu entrevista à Folha numa produtora paulistana, antes de gravar o programa semanal "Saia Justa".

Poderia ter falado sobre teatro, TV, sobre a última novela na qual atuou ("Império") ou sobre o livro que lançou com suas crônicas na revista "TPM".

Eduardo Knapp/Folhapress
Sao Paulo,, Brasil, 04-05-2015 13h32.Entrevista com Maria Ribeiro (atriz, escritora e cineasta( -no estudio da Barra Funda em Sao Paulo- que fala sobre o seu segundo documentario (sobre o grupo Los Hermanos) com estreia em 14 de Maio (Foto Eduardo Knapp/Folhapress.ILUSTRADA). Cod do Fotografo: 0716
Entrevista com Maria Ribeiro (atriz, escritora e cineasta)

SONHO DE CRIANÇA

Desse jeito, como é na hora de preencher o campo "profissão" nas fichas de hotel?

"Atriz", responde, "mas sempre quis ser jornalista. Quando era criança, meu sonho era trabalhar no 'Globo Repórter'".

Diz que escrevia bem na escola –"E gostava de aparecer!". Aí foi fazer teatro e virou atriz. Segundo ela, sem pretensão. "É o que eu sou há mais tempo. Não me considero escritora nem cineasta. Apresentadora... Bom, hoje em dia todo mundo é, né?"

Ela observa alguma pressão externa para definir qual seu foco principal, mas acha que lida bem com várias atividades. Sente que está em boa companhia, listando artistas que atuam, dirigem, escrevem e fazem TV. Cita Gregorio Duvivier, Fabio Porchat, Maitê Proença e Fernanda Torres como exemplos.

FELIZ NO CAOS

Maria diz que não planeja previamente essa série de empreitadas. "Não sou nada organizada, me dou bem no caos. Eu demoro muito para fazer as coisas. O documentário sobre o Domingos era para ser um curta, virou um documentário que levou sete anos para ficar pronto."

Ela se define como uma boa produtora de conteúdo. Tem as ideias e depois vai tentando realizá-las dentro do tempo que encontra.

"Rodei o filme dos Los Hermanos há três anos. De lá para cá, fiz novela, peça de teatro, escrevi muito." É um jeito de não deixar o filme virar uma obsessão.

"No Brasil, você leva mais de cinco anos para finalizar um longa. Quando sai, talvez nem tenha mais vontade de falar dele. Tocando esse meu 'varejão', acho que as coisas ficam mais leves."

Ela diz que a carreira de atriz é a base para encarar as outras profissões. Lembra do jornalista Paulo Francis (1930-1997), amigo de seu pai, "um doce na intimidade e feroz na argumentação".

Decidiu então que seria interessante para o "Saia Justa" se ela entrasse em cena "para bater". "Acho que cada uma tem uma função ali, e a minha é essa e eu gosto. Mesmo quando apanho."

LOS HERMANOS - ESSE É SÓ O COMEÇO DO FIM DA NOSSA VIDA
DIREÇÃO Maria Ribeiro
ELENCO Rodrigo Amarante, Marcelo Camelo, Rodrigo Barba e Bruno Medina
PRODUÇÃO Brasil, 2014, 12 anos
QUANDO quinta (14)
AVALIAÇÃO ótimo

OS INGREDIENTES Sete coisas que os fãs da banda vão adorar:

1 Hermanos no palco
Há um bom número de músicas, algumas completas, como "O Vencedor", que abre o filme

2 Amarante ranzinza
O mais arredio da banda justifica a fama no filme

3 Camelo "fofo"
Cordial e carinhoso com os fãs, sempre. Que paciência!

4 Fãs alucinados
Um deles é celebrado no filme, quando completa 50 shows assistidos (!)

5 Flagrante no estúdio
A química do quarteto funcionando na intimidade

6 Camelo & Mallu
Discretos, pelos cantinhos da tela em algumas sequências

7 Alguma esperança
Não há brigas, nem crises. Quem sabe um novo retorno?


Endereço da página:

Links no texto: