Folha de S. Paulo


Ricardo Tisci, diretor da Givenchy e stylist de Madonna, subverte a beleza na moda

Quando Madonna caiu no palco do prêmio musical Brit Awards, em fevereiro deste ano, vítima de uma capa que não soltou em uma das manobras de sua performance, mensagens como "Tisci está demitido" ou "E agora, Tisci?" surgiram ao montes nas redes sociais em meio às sátiras sobre a popstar.

Tisci é o sobrenome de Riccardo, italiano que aos 40 anos angaria as posições de diretor criativo da grife Givenchy –uma das mais tradicionais e importantes da França–, de mentor do rejuvenescimento da moda francesa e, como se não bastasse, de estilista responsável pelo novo visual toureiro de Madonna em seu disco "Rebel Heart".

Dono do desfile mais disputado da semana de moda de Paris, em que a primeira fila é tomada por celebridades e amigos –como o casal Kim Kardashian e Kanye West–, Tisci não foi demitido de nada. Ao contrário. Já prepara uma série de novos looks para a rainha do pop.

"Madonna é uma lutadora. Se fosse qualquer outra cantora naquela situação, pararia na hora. Há muitos detratores nas redes sociais que têm prazer de criticar os outros", diz ele em entrevista à Folha, realizada num hotel em São Paulo. "Mas a capa não era minha, quem fez foi o [estilista Giorgio] Armani", diz ele, acendendo um cigarro com uma vela.

"Muitas pessoas a criticam, dizem que está velha. Desculpe, mas é Madonna. Você acha que está entregando dez e ela te pede 20. Ela te puxa ao máximo –não é porque não acredita em você, mas porque cobra de si mesma o melhor. Depois você vê o resultado: todo mundo copiando o que ela faz."

Nada parece abalar Riccardo Tisci. Num mercado como o da moda, ele é um dos poucos designers que conseguem, sem amarras comerciais, subverter a lógica do que se entende por bonito. E ainda cutuca feridas da sociedade como, por exemplo, a religião.

VIBRANTES

"A beleza comum pode ser extraordinariamente feia. Toda feiura é, na verdade, um tabu que a sociedade põe na cabeça das pessoas", diz.

Ele continua: "Tenho viajado muito por países pobres e vejo mulheres que, mesmo sem dinheiro, conseguem ser muito mais vibrantes e bonitas do que as europeias. As latinas pobres dançam, usam joias, batom, não têm vergonha do corpo, do sexo. Isso é beleza para mim", explica.

Uma beleza que ele espera agradar às brasileiras. Tisci adianta que abrirá no início do próximo ano uma "pop-up store" da Givenchy em São Paulo.

Em seu último desfile, em março, o estilista colocou na passarela parisiense modelos inspirados no visual das garotas do submundo do crime no México, as Chola Girls –maquiagem pesada, tranças e roupas justas–, misturando a estética à sisuda indumentária vitoriana do século 19.

"Paris vive uma aura negativa. Veja o que as garotas muçulmanas estão passando no metrô, tendo seus lenços puxados por pessoas que julgam as outras pela religião. Essa imagem [da coleção] tem muito a ver com o período pelo qual estamos passando, quando você abre o computador e só vê morte, sangue e pessoas usando a fé para lutar", diz.

Tisci demonstra audácia, por exemplo, em ter sido o primeiro estilista a apostar na modelo transexual brasileira Lea T como rosto da Givenchy –abrindo as portas da moda para a questão da transexualidade. Isso ajuda fazer dele o estilista mais ousado de sua geração e o que melhor dialoga com a juventude.

Não à toa, Tisci é um dos embaixadores da Amfar (American Foundation for Aids Research), organização que promove leilões para angariar dinheiro em favor da descoberta da vacina contra o HIV.

No mês passado, a organização armou uma festa em São Paulo que contou com a presença do estilista, da cantora australiana Kylie Minogue e da modelo Kate Moss.

"Essa nova geração não viveu o terror da Aids nos anos 1980 e 1990. O que fazemos é educar as pessoas, mostrar a importância de falar sobre a doença e conscientizar os ricos da importância de ajudar na causa", diz Tisci.


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