Folha de S. Paulo


Filha reúne em livro material inédito sobre a fotógrafa Hildegard Rosenthal

Quando tinha 24 anos, Hildegard Rosenthal deixou seu país, os estudos e a família para se mudar para o Brasil atrás do homem que amava. Numa terra desconhecida, a fotógrafa suíça-alemã se tornou uma das maiores vozes da iconografia nacional ao longo das décadas de 30 e 40.

Sua trajetória agora vai virar tema de livro, escrito por sua filha Dorothéa, ainda sem previsão de publicação. No dia 15 de junho, Dorothéa também participará de um bate-papo na Vila Madalena para contar memórias sobre sua mãe e apresentar os equipamentos com que trabalhava e algumas de suas fotografias.

Cenas urbanas, tipos humanos, renomados artistas passaram pelas lentes e pelas fotorreportagens de Hildegard.

Um acervo, com 3.400 negativos de sua obra, foi adquirido pelo Instituto Moreira Salles em 1996 e reúne praticamente toda sua fase profissional. Outra parte dos negativos foi doada por ela, em vida, para o Museu Lasar Segall. São fotos da artista em ação.

O que a filha pretende mostrar no livro é a produção da mãe após encerrar a carreira, em 1948. Vasculhou o baú de suas lembranças e procurou muitos documentos para relatar a vida dos seus bisavós em Frankfurt. A história da infância e da adolescência de Hildegard (1913-1990) é fundamental para entender sua personalidade e a marca de seu olhar fotográfico.

ARMÁRIO DA GARAGEM

Dorothéa conta como a mãe conheceu o pai, em Paris, narra a vinda para o Brasil, o despertar para a profissão e a paixão pela fotografia. O livro traz imagens inéditas feitas pela fotógrafa com a Rolleiflex, presenteada pelo pai, em 1953: fotos de crianças, catálogos de escolas e calendários.

Em depoimento concedido a Boris Kossoy, Hans Flieg e Eduardo Castanho para o Museu da Imagem e do Som, em 1981, Hildegard disse que fotografias de crianças eram sua especialidade e que possuía um material fabuloso, mas que "ninguém nunca se interessou por ele".

Depois de encerrar a carreira de fotojornalista, Hildegard guardou as reportagens publicadas em um armário no fundo da garagem e os negativos num gaveteiro de madeira. Nele, Dorothéa e sua irmã brincavam de "escritório".

A fotógrafa não tinha muita preocupação com sua obra dos anos 1930 e 1940. Não catalogava os negativos (muitos de vidro feitos com a máquina Graflex e outros feitos com a Leica), não os datava, mas os localizava com rapidez quando solicitados.

Acreditava que sua fase profissional estava encerrada e queria esquecer as condições precárias em que trabalhou e o desdém com que eram tratados os fotógrafos na época.

BURLANDO A SEGURANÇA

Por não achar que a obra tivesse importância iconográfica, um dia, conta a filha, "presenciei a minha mãe abrir os armários da garagem e rasgar jornais, revistas e se desfazer de muitos negativos, pois estavam ocupando espaço".

Na ocasião, ela jogou 13 mil negativos fora, entre eles retratos de Menotti Del Pichia, Sergio Milliet e a vinda de Getúlio Vargas a São Paulo.

Ela detalha no livro como sua mãe combinou com os outros colegas de tentar burlar a segurança presidencial. "Com sua beleza delicada e estatura miúda conseguiu chegar muito perto do conversível presidencial, subiu no estribo do carro, retratou Getúlio e jogou a máquina para os colegas, como havia combinado. Depois saiu correndo na multidão."

Ao chegar ao Brasil, Hildegard trouxe carta de recomendação para procurar Lasar Segall. Ele a indicou para fotografar salões de arte.

Ela então abriu a porta de sua casa para jantares e reuniões e frequentou a casa de muitos deles. Essa aproximação com o meio artístico marcou o olhar de Hildegard.

"A composição, os detalhes, o brincar com as sombras e luzes, a negação do uso do flash, algo em voga na época, foram determinantes para a formação de desenhos em suas fotografias", diz.

CICLO DE PALESTRAS DO PONTO CONVERGENTE: HILDEGARD ROSENTHAL
QUANDO seg. (15/6), às 20h
ONDE Estúdio Madalena, r. Faisão, 75, tel. (11) 3473 5410
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre


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