O espetáculo "A Mulher do Trem", do grupo os Fofos Encenam, que seria apresentada na próxima terça-feira (12), no Itaú Cultural, teve sua sessão cancelada após ser acusada de estimular o racismo.
Um evento organizado no Facebook na última semana pedia repúdio à peça, que faz uso do blackface –maquiagem de rosto preta, disseminada no século 19, que representa personagens negros.
Escrita no século 19, a comédia francesa é centrada em uma família de classe média. Na montagem dos Fofos (de 2002), a companhia usa a linguagem do circo-teatro, com maquiagens exageradas.
"Usamos máscaras da cultura popular e que representam uma questão [de preconceito] social da época", diz o diretor Fernando Neves. "Temos um cuidado imenso para defender as minorias e nunca quisemos soar racistas."
| Divulgação | ||
 |
||
| Atores do grupo Os Fofos encenam usam maquiagem blackface na peça "A Mulher do Trem" |
A estudante de arquitetura da PUC-Campinas Stephanie Ribeiro, 21, criadora do evento (que até às 20h de ontem tinha apoio de 836 pessoas e ganhou a adesão de movimentos negros) e integrante do site Blogueiras Negras, diz que se sentiu ofendida ao ver uma foto de divulgação da peça.
"Eles até falaram que é uma crítica social. Mas não dá para usar isso como algo positivo", diz ela, que não assistiu à peça, mas conta que, depois de criado o evento, viu um vídeo da montagem. "Queremos que a companhia peça desculpas. Esse tipo de ato é inadmissível", afirma.
No lugar da sessão, o Itaú Cultural e a companhia decidiram promover, na terça, às 20h, um debate sobre o tema, com participação de integrantes do grupo e de representantes dos movimentos negros.
"Chegamos à conclusão de que era melhor fazer um debate sobre o racismo e as questões do negro. Mas queremos reprogramar a apresentação da peça", diz Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural.