Folha de S. Paulo


Novo álbum de Tulipa Ruiz vai da disco dos 70 ao pop dos 80

Um disco dançante, com capa feita pelo lendário quadrinista americano Robert Crumb. Esses eram os horizontes que Tulipa Ruiz colocou para seu terceiro disco, "Dancê", quando recebeu o sinal verde para começá-lo, no fim de 2014.

Enfiou-se no carro de Gustavo Ruiz, seu irmão, guitarrista, produtor e principal parceiro. Juntos, os dois desceram para a praia de Camburi, no litoral paulista. Foi o começo de um retiro musical que da praia foi para a cidade mineira de São Lourenço.

Passaram 15 dias enfurnados em pré-gravações no estúdio caseiro de Gustavo. Depois se encontraram com a banda num sítio perto de Campinas. Gravaram o disco no estúdio da Red Bull, no centro de São Paulo, onde a cantora recebeu a reportagem – "Dancê" será lançado nesta terça (5), em formatos físico e digital.

Marlene Bergamo/Folhapress
Retrato da cantora Tulipa Ruiz, que lança novo álbum
Retrato da cantora Tulipa Ruiz, que lança novo álbum

"Eu tinha duas certezas", diz Tulipa. "Queria um disco dançante, mas no sentido que você quisesse celebrá-lo com o corpo, não necessariamente um disco de dance music. Sabe quando o impulso vem primeiro aqui antes de ir pra cá?", aponta para o quadril e depois para a cabeça.

"E tinha entrado numa viagem de que a capa seria do Crumb", gargalha, ao que o irmão sacode a cabeça, olhando pra baixo: "Pouco pretensiosa." Ela própria ri da ingenuidade, lembrando da pergunta que fez à época: "'Gente, e se a capa for do Crumb?"

"Cheguei falando que ele ia adorar, porque sou um desenho dele e não ia nem cobrar!"

Ela conta que achou a assessora do pai da HQ underground. "E ela disse: 'Linda, o Crumb não trabalha mais'".

POP NA VEIA

Mas se a segunda certeza não se confirmou, a primeira é a espinha dorsal sinuosa de "Dancê", que escorrega pela pista, puxando a transição da disco music dos anos 1970 rumo ao pop oitentista.

As referências vão do "Realce" de Gilberto Gil aos primeiros Marina Lima e Ney Matogrosso, passando por Rita Lee na fase Lincoln Olivetti, a banda Vitória Régia de Tim Maia, o "Lindo Lago do Amor" de Gonzaguinha, o "Cartaz" de Fagner e o Caetano new wave.

O disco é também o cavalo de Troia de um novo cânone musical brasileiro. À primeira audição, parece superfluamente pop, lembrando hits de mais de 30 anos atrás.

Mas "Tafetá" tem a ilustre presença de João Donato. "Expirou" convoca o "guitar hero" Lanny Gordin. O mestre da guitarrada Manoel Cordeiro e seu filho Felipe surgem em "Virou". Contemporâneos como o trio Metá Metá (na densa "Algo Maior") e o produtor Kassin (na fútil "Físico", inspirada em Olivia Newton-John) ajudam a engrossar um Olimpo do nosso pop atual.

O novo disco também é análogo à própria carreira de Tulipa, que surgiu quase tímida com o singelo "Efêmera" (2010) e começou a botar suas garras de fora no intenso "Tudo Tanto" (2012), lançado dois anos depois. "Dancê" parece botar o ponto final na primeira etapa de sua carreira.

DANCÊ
ARTISTA Tulipa Ruiz
LANÇAMENTO Ponmello/ Natura Musical
QUANTO R$ 29,90
NA WEB www.tuliparuiz.com.br


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