Folha de S. Paulo


Videobrasil terá mantos coloridos de artista do Mali

Não parece, mas os grandes trabalhos em tecido colorido de Abdoulaye Konaté estão ancorados na experiência da guerra e da doença –dos conflitos no Mali, onde nasceu, à epidemia da Aids.

Um dos maiores nomes do próximo festival Videobrasil, que começa em outubro no Sesc Pompeia, Konaté constrói agora uma série de peças inspiradas no que viu no Brasil, em especial a devastação ambiental que ele compara à situação de seu país.

"Tenho duas linhas de trabalho, uma voltada para problemas sociais e a outra engajada em conceitos estéticos", diz Konaté. "Mas é claro que essas duas linhas se cruzam."

Divulgação
Um dos mantos coloridos de Abdoulaye Konaté, que estará no Festival Videobrasil
Um dos mantos coloridos de Abdoulaye Konaté, que estará no Festival Videobrasil

No caso, são ideias que se encontram na trama dos tecidos. Konaté começou como pintor, mas decidiu traduzir em sua obra o impacto visual das roupas tradicionais de caçadores e artistas de rua do Mali, que ele vê "quase como uma seita, uma casta social."

Mesmo trabalhando com a linguagem dos tecidos há três décadas, Konaté despontou para valer no circuito global depois de participar da última Documenta, em Kassel, na Alemanha, há oito anos.

Sua obra, aliás, chamou a atenção dos críticos num momento em que trabalhos têxteis se tornaram uma espécie de tendência no mundo da arte, do revival de Bispo do Rosário e Leonilson à reabilitação de nomes como a norte-americana Sheila Hicks.

El Anatsui, artista ganês que acaba de vencer o Leão de Ouro pelo conjunto da obra na Bienal de Veneza, não usa tecido, mas também cria mantos trançados com objetos descartados, uma operação que lembra a obra de Konaté.

Seu desafio, e o de muitos nomes da África que vem ganhando os holofotes, é não esbarrar numa linguagem caricatural ou folclórica. Konaté diz que não segue uma moda ou tendência, mas reconhece que há um interesse enorme pelos artistas do continente.

"Nossa imagem continua fraca, mas melhora", diz Konaté. "O mercado já se apropriou de alguns artistas."


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