Folha de S. Paulo


'O Estrangeiro' rendeu diversas adaptações

Em 2013, ano do centenário de nascimento de Camus, surgiu, além do romance de Kamel Daoud, outra "continuação" de "O Estrangeiro": "Aujourd'hui, Meursault Est Mort" ("Hoje, Meursault Morreu", disponível em e-book), do argelino Salah Guemriche.

O título da obra retoma a primeira frase de "O Estrangeiro" ("Hoje, mamãe morreu") e coloca em cena o filho do árabe morto por Meursault.

Kamel Daoud cria jogo de espelhos com Camus

No dia da execução do assassino, ele encontra certo sr. Albert, com o qual entabula diálogos que, mesclando ficção e ensaio, mexem na ferida do anonimato árabe na obra de Camus.

Folhapress
Albert Camus (1913-1960) come feijoada com a arquiteta Lina Bo Bardi na casa de Oswald de Andrade, durante visita ao Brasil em 1949, em SP
Albert Camus (1913-1960) come feijoada com a arquiteta Lina Bo Bardi na casa de Oswald de Andrade, durante visita ao Brasil em 1949, em SP

Também no âmbito do centenário, apareceu uma adaptação de "O Estrangeiro" para história em quadrinhos, do desenhista argelino Jacques Ferrandez.

Publicada neste ano no Brasil pela editora Companhia das Letras (144 págs., R$ 54,90), a HQ toma poucas liberdades com o original –a principal delas é prescindir das palavras na cena do assassinato do árabe, traduzindo em imagens o momento em que o sol calcinante empurra o protagonista para o gesto trágico.

O Estrangeiro
Jacques Ferrandez
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Essas versões, assim como a publicação póstuma, nos anos 1990, do romance inacabado "O Primeiro Homem", mostram que a obra de Camus ainda rende retomadas e descobertas. Uma delas diz respeito ao Brasil.

Em 1949, Camus percorreu o país e viajou com o escritor Oswald de Andrade a Iguape (litoral sul de São Paulo), onde assistiu a uma romaria na qual um homem negro de barba, "dorso nu, carregando uma enorme laje na cabeça" (segundo anotações de seu "Diário de Viagem"), serviria depois de inspiração para o pagador de promessas do conto "A Pedra que Cresce" (que integra o livro "O Exílio e o Reino").

Ocorre que, além dessas anotações do punho do escritor, existem também registros fotográficos da viagem que nunca entraram nas fotobiografias de Camus e estão depositados no Centro de Documentação Alexandre Eulalio (Cedae/Unicamp).

São imagens da procissão do Bom Jesus de Iguape, sem identificação de autoria, guardadas no acervo de Oswald de Andrade, nas quais aparece, entre os romeiros, justamente o homem carregando a pedra –único registro visual de uma personagem que inspirou Camus.

MEURSAULT, CONTRE-ENQUETÊ
AUTOR Kamel Daoud
EDITORA Actes Sud
QUANTO cerca de R$ 64 na Amazon.com (160 págs.)


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