Não é dramaturgia das mais complexas, pelo contrário. Mas apesar de seu maniqueísmo –ou talvez por causa dele– "Visitando o Sr. Green" se prova uma noite agradável no teatro. Uma peça quase verossímil.
Não é fácil embarcar na trama. Aborda uma questão tocante, a aceitação do homossexual, porém num ambiente em que isso já é não-assunto –a Nova York contemporânea. A luta de verdade contra a homofobia na cidade foi há meio século, com a revolta de Stonewall, que resultou no que é agora festejado, mundo afora, pela gigantesca Parada Gay.
Soa anacrônico um personagem nova-iorquino se declarar oprimido como Ross ou mostrar-se preconceituoso como o Sr. Green.
Ale Catan/Divulgação | ||
Ricardo Gelli (esq.) e Sérgio Mamberti em cena de "Visitando o Sr. Green" |
O que torna a situação dramaticamente plausível, assim, é a peça ser apresentada em São Paulo, num país onde pastor vai à Rede Globo afirmar que homossexual "destrói valores fundamentais da civilização".
Em contraponto a tamanho reacionarismo, público e elenco, na apresentação da peça no sábado (25/4), passaram por uma catarse de congraçamento –concordando entre lágrimas quanto à importância de reafirmar o direito dos homossexuais ao desejo e à própria existência.
Diante da homofobia galopante, até essa açucarada "Visitando Mr. Green" vira peça política.
Compostos de um roteirista de televisão, Jeff Baron, de produção muito voltada para Disney e outros infantis, Sr. Green e Ross são personagens de poucas cores, que não permitem maior amplitude aos intérpretes.
Sergio Mamberti representa o primeiro como um vovô simpático, comicamente ranzinza, engraçado até no preconceito. Também o Ross de Ricardo Gelli é bondoso, agradável, encantador.
Pelo enredo, o jovem advogado homossexual é obrigado por um juiz a conviver com o viúvo velhinho que quase atropelou. Com o tempo, os dois aprendem o valor do respeito ao próximo, sem discriminação. E, no final, como nos desenhos para crianças, o amor vence.
É tudo tão previsível que parte da plateia, na apresentação, adiantava as falas em voz alta, incontível.