Folha de S. Paulo


Espetáculo musical revive o legado libertário do grupo Dzi Croquettes

Homens barbados mostrando as pernas peludas por baixo de vestidinhos sensuais e por cima do salto alto.

Era um bloco de Carnaval no Rio, nos anos 70. "Nos inspiramos nesse bloquinho de piranhas para montar os Dzi Croquettes", diz Ciro Barcellos, ex-integrante do grupo, atual diretor do musical "Dzi Croquettes em Bandália", que faz temporada relâmpago em São Paulo no fim de semana.

Já a inspiração da peça foi o sucesso alcançado pelo documentário "Dzi Croquettes" (2009), de Tatiana Issa e Raphael Alvarez.

"Uma geração que nem sabia de nossa existência começou a nos conhecer, viramos cult. A peça é para mostrar um pouco nosso modo de vida", diz Bayard Tonelli, um dos fundadores do grupo de teatro e dança símbolo da contracultura naquele período.

"Faço só uma participação especial, não tenho mais idade para aguentar a pauleira física. Mas não tenho medo de tirar a roupa: estou ótimo e a gente tem os truques para ficar seminu no palco", diz o ator septuagenário.

Da formação original, além de Barcellos e Tonelli, participa da montagem Claudio Tovar, que assina os figurinos.

Segundo o diretor, que também está em cena, o espetáculo nem é um "recordar é viver" nem tem a pretensão de ser um espetáculo igual aos que o grupo original fazia.

"Queríamos oferecer uma amostra do que é ser Croquette para a geração que adorou o documentário. E, claro, pegar carona no sucesso do filme", diz Barcellos.

A ideia do diretor é mostrar, com muita dança, um pouco do que foi a filosofia libertária do grupo.

"Criei um pretexto, na peça, para isso acontecer: a reunião em uma garagem abandonada de um grupo que, após ver o documentário sobre os Dzi Croquettes, resolve viver como eles viviam nos anos 70", diz Barcellos.

Os jovens chamam dois ex-integrantres (Barcellos e Tonelli) para criar uma república na garagem –inspirada na Embaixada de Marte, casa no bairro de Santa Teresa, no Rio, onde os integrantes viviam em comunidade.

No espetáculo, os jovens Croquettes usam a garagem como casa de dia e como cabaré clandestino à noite.

A trilha do "musical eletrônico anarquista" tem samba, ritmos africanos, tango, bolero e "MPB com purpurina".

Algumas coreografias do guru dos Dzi Croquettes, Lennie Dale (1934-1994), também são revividas no espetáculo.

Tonelli tentou incutir o rigor técnico do coreógrafo americano nos jovens atores. "Fazer 'Dzi' não é só botar um vestidinho e subir no palco."

Barcellos entrou no grupo aos 17 anos. "Imagina um gaúcho fazendo a Gal Costa e cantando: 'Eu sou uma fruta gogóia/Eu sou uma moça'."

Seu sonho era ser Lennie Dale, papel que desempenha no espetáculo. "Mas é impossível fazer como ele. Quando a bicha começava a dançar, não tinha para ninguém."

DZI CROQUETTES EM BANDÁLIA
QUANDO sex. (1º) e sáb. (2), às 21h; dom. (3), às 19h
ONDE Teatro João Caetano (r. Borges Lagoa, 650; tel. 11-5573-3774)
QUANTO grátis; ingressos distribuídos uma hora antes da peça
CLASSIFICAÇÃO 16 anos


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