Folha de S. Paulo


Masp devolverá imagem sacra levada de igreja barroca na década de 1950

Uma série de ações conduzidas pelo Ministério Público de Minas Gerais exigindo a devolução de imagens sacras levadas das cidades históricas mineiras acaba de atingir o Masp. No acervo do museu há 12 anos, "Verônica", uma tela de autor desconhecido de 1756, será devolvida para o interior mineiro, de onde foi levada no final dos anos 1950.

Há seis anos, o museu paulistano recebeu um pedido da promotoria mineira dizendo que o quadro fora roubado e precisava ser devolvido a seu local de origem. Depois de extensas negociações, o Masp decidiu devolver o quadro, que permanecerá em seu acervo, no entanto, até que sejam acordadas medidas para o transporte da peça.

Nunca exposta no museu paulistano, a tela pertencia à igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, na cidade mineira de Lavras. O músico William Daghlian, brasileiro radicado em Nova York desde os anos 1960, foi quem levou o quadro a São Paulo, onde permaneceu quase 50 anos na casa de seus pais, sendo doado ao Masp em 2003.

Divulgação
Tela 'Verônica', pintada por autor desconhecido em 1756, que será devolvida pelo Masp a museu de MG
Tela 'Verônica', pintada por autor desconhecido em 1756, que será devolvida pelo Masp a museu de MG

Em estado precário de conservação, a obra não poderá ser devolvida à igreja de onde foi retirada. Mas, por exigência do Ministério Público mineiro, ela deverá retornar a seu Estado de origem, sendo incorporada à coleção do Museu de Arte Sacra de São João del Rei.

Segundo Juliana Sá, do departamento jurídico do Masp, o museu foi notificado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e pelo Ministério Público para que a peça, tombada pelo órgão federal de preservação histórica em 1948, fosse devolvida.

"Vieram atrás da gente dizendo que a peça era roubada", diz Sá. "Claro que a gente vai devolver a obra. Ela já entrou no museu em péssimo estado de conservação, mas aqui esteve em condições apropriadas de umidade e temperatura. Desde que pediram a peça, concordamos em devolver."

Na promotoria mineira, quem coordena esse e uma série de pedidos de devolução de imagens sacras é o promotor Marcos Paulo de Souza Miranda, que vem ganhando notoriedade pelas ações que conduz pelo país afora para devolver a Minas Gerais imagens que teriam sido surrupiadas de suas igrejas históricas —cerca de 600 peças já foram recuperadas na última década.

Embora tenham mapeado parte importante de peças barrocas que haviam sumido do mapa, as ações de Souza Miranda também mexeram com o mercado de arte sacra, com peças sendo destituídas de coleções particulares, em especial de acervos paulistanos.

Daghlian, acusado de ter roubado a "Verônica", considera a decisão de levar a peça de volta a Minas Gerais um caso de "fanatismo de província". "Era adolescente quando vi esse quadro jogado debaixo de uma pilha de tijolos numa igreja. Pedi ao zelador que me deixasse levar a tela, senão ela iria se perder", conta o músico. "Acabei doando isso para o Masp, mas eles não puderam restaurar. É uma loucura levarem de volta. Lá isso vai ser roubado."


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