Folha de S. Paulo


'Abujamra foi um grande mestre', diz a atriz Vera Holtz; veja a repercussão

Colegas lamentaram a morte de Antônio Abujamra ao longo desta terça-feira (28). O ator e diretor, conhecido do público pelo papel de Ravengar na novela "Que Rei Sou Eu?" (1989) e por "Provocações", da TV Cultura, dedicou a carreira ao teatro e dirigiu peças como "Um Certo Hamlet", com a qual venceu o Prêmio Molière de melhor direção.

A atriz Vera Holtz elogiou a autoridade de Abujamra como diretor, e diz que trabalhar com ele foi "fundamental" à sua formação –ela estreou na televisão ao lado dele com "O Rei Sou Eu?", novela em que a atriz interpretava Fanny, subordinada de Ravengar.

"Ele multiplicava os nossos pontos de vista não só sobre trabalho, mas também sobre o mundo", afirmou ela à Folha.

Leia, abaixo, a repercussão.

Dilma Rousseff, presidente
"Quero expressar meu pesar pela morte do ator, diretor e produtor cultural Antônio Abujamra. Minha solidariedade à família, aos amigos e à comunidade teatral, diante da enorme relevância de Antônio Abujamra para as artes em nosso país."

Geraldo Alckmin, governador de São Paulo
"'Caminhando no incerto e idolatrando a dúvida', Antônio Abujamra deixou um importante legado cultural ao país como ator, diretor e apresentador de TV. Compartilho meus sentimentos nesta hora com todos os seus familiares, amigos e fãs."

Vera Holtz, atriz
"Abujamra para a minha formação foi fundamental. Ele obrigava a gente a não ficar voltado só para o nosso mundo. Ele multiplicava os nossos pontos de vista não só sobre o trabalho, mas também sobre o mundo. Dizia: 'saia disso', desse mundo autocentrado. Mas era muito amoroso, sem perder a autoridade. Era um grande regente, um grande diretor. Para mim, ele foi realmente um grande mestre. Nós fizemos juntos 'Fedra', depois uma versão feminina de 'Um Certo Hamlet'. Eu estreei com Abujamra em novelas com 'Que Rei Sou Eu?'. Essa relação foi expandida em [o grupo teatral] Os Fodidos Privilegiados. Ele é especial, o Abu segue com a gente."

Iara Jamra, atriz e prima de Antônio Abujamra
"Ele deixou para todos nós uma grande força. Uma força enorme como homem de cultura, homem de teatro. A irreverência dele nos ensinou muito. Eu tive o privilégio de fazer uma novela com ele recentemente, no SBT, 'Corações Feridos' [2012]. Ele vai deixar uma grande lição que é ser honesto, sincero e correr atrás dos ideais. Era um homem que sempre esteve além do seu tempo."

Edson Celulari, ator
"O Abujamra é um dos artistas mais inquietos e atrevidos no bom sentido que eu conheci no Brasil. Eu iniciei minha carreira na TV Tupi em televisão com ele, que era diretor artístico na época. Fui reencontrá-lo depois em 'Que Rei Sou Eu?'. O Abujamra vai fazer muita falta. Eu acho que ninguém ocupa esse espaço como ele. A inquietação dele no teatro, a maneira como ele dirigia, representava, pensava. Um grande pensador do seu tempo, um artista com muitas possibilidades. Em 'Que Rei Sou Eu?' o público pôde ter um contato bastante grande com o Ravengar, inesquecível. Ele havia perdido a mulher [Cibélia] há uns anos, ficou muito triste. E ele, que era tão agitado, artisticamente, intelectualmente, nos deixou de uma maneira tão serena, acho que por merecimento. Vai ficar muita saudade."

Jorge Fernando, diretor de televisão
"Abujamra era um provocador. Acho que o espaço hoje vai estar uma turbulência, a zona que esse homem vai fazer chegando a seu destino. Abujamra é meu Ravengar, a minha cobaia, meu grande sucesso. Tem certos papéis que, se for feito por determinado ator, aquilo toma uma dimensão. Foi o caso do Ravengar e tudo que ele fez e tudo que ele provocou nas pessoas, de falar o seu outro lado, cair a máscara, desmistificar essa nossa vaidade. E ele sempre foi um homem de família, apesar de ser um doido varrido. Acho que isso é uma das características mais importantes da gente: cultivar uma família, saber o respeito. Vai chegar a minha hora, me aguarde, Abu. Nossa relação era a melhor possível. Eu não o via há um tempo, mas éramos fãs um do outro."

Giulia Gam, atriz
"Perdemos o mestre da irreverência, da generosidade, da provocação amorosa, do humor, da inteligência sofisticada, do imprevisível! Abu nos surpreendia com suas frases originais, provocativas e inesperadas, mas sempre ditas de maneira acolhedora e construtiva. Uma perda de um dos mais importantes alicerces de nossa cultura! O teatro está em luto!"

Leilah Assumpção, dramaturga
"O Abu era uma força da natureza e ele era um inovador, fez espetáculos da maior importância e marcou a sua época. Ele fez 'Roda Cor de Roda' [1975], uma peça minha que foi um grande sucesso. E ele falava que sucesso era uma bobagem. Gostava de grandes fracassos. 'Provocações', na TV, era um programa diferenciado, fora dos padrões. Estou sofrendo muito, gostava muito dele, ele era muito querido por todo mundo. Ele morreu dormindo e vai encontrar o amor da vida dele, a Belinha [sua mulher], que morreu há pouco tempo."

Consuelo de Castro, dramaturga
"Fui entrevistada no "Provocações", e escrevi duas peças que foram dirigidas por ele. "Uma Caixa de Outras Coisas", com a Clarisse Abujamra, nós escrevemos juntos. Tenho muita gratidão por tudo que ele fez por mim. Ele me formou. Abu, a única coisa que me ocorre te dizer nesse susto é que eu te amo muito, muito, muito, muito. Que vou te amar sempre, dia após dia, noite após noite, que tua risada cínica estará para sempre debochando dos meus titubeios, tua voz possante sempre no meu ouvido convocando à altivez, o eterno motim contra o lugar-comum, teu dedo em riste exigirá de mim o melhor que eu puder dar e se e puder dar pouco, ou nada, em forma de luz ou sombra, você vai me virar as costas, Abu, nada a declarar. Porque você não morreu nem vai morrer nunca."


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