Folha de S. Paulo


Escritor antes de ser político, José Sarney é pouco estudado

Sarney virou imortal antes de publicar qualquer livro e de ingressar na política.

Tinha só 22 anos quando foi eleito para a Academia Maranhense de Letras, em 1953, em reconhecimento pelo ativismo cultural em São Luís, com a criação da revista "A Ilha" e do suplemento literário do jornal "O Imparcial".

Embora o escritor seja anterior ao político –o livro de poemas "A Canção Inicial" é de 1954, um ano antes da estreia na vida pública–, a atuação no poder foi mais prolífica que a literária.

Pedro Ladeira/Folhapress
O ex-presidente José Sarney fala sobre sua obra literária, em seu escritório, em Brasília.
O ex-presidente José Sarney fala sobre sua obra literária, em seu escritório, em Brasília.

Tirando textos políticos e crônicas, foram três romances, três volumes de contos e três de poesia em seis décadas.

Publicada em boa parte pela antiga editora Siciliano, essa produção ficou anos fora de catálogo. Em 2014, a Leya, que já publicava parte de suas crônicas e seus ensaios, reeditou os romances "Saraminda" e "O Dono do Mar".

Não é fácil encontrar quem tenha se dedicado a estudar esses livros. Dos quase 300 currículos da plataforma Lattes que têm alguma citação ao ex-presidente, menos de dez são de estudiosos da área de letras interessados em sua prosa –no geral, estudantes de graduação no Maranhão.

Em 1988, ao destrinchar os contos de "O Brejal dos Guajas", Millôr Fernandes resumiu assim: "É uma anedotinha 'socialzinha' tolinha (já contada mais de um milhão de vezes) da briguinha de dois coroneizinhos de uma cidadezinha perdidinha no interiorzinho do Maranhão".

Entre os declarados admiradores, estão escritores com quem Sarney mantém laços de amizade, como o diplomata Alberto da Costa e Silva e o ex-ministro Marcos Vilaça, colegas de fardão na Academia Brasileira de Letras.

Vilaça diz que é na prosa que ele "se supera". "'O Dono do Mar' e 'Saraminda' bastam na vida do romancista."

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O poeta Ferreira Gullar, conterrâneo e colega de geração, também vê mais qualidade na prosa do que na poesia. "Ela é bem escrita, imaginativa. 'Saraminda' é poético. 'O Dono do Mar' mostra um conhecimento próximo da vila de pescadores que retrata."

A atuação política "sombreou" a atividade literária do maranhense, na avaliação de Alberto Costa e Silva.

Em 2000, em texto para a "Veja" por ocasião do lançamento de "Saraminda", o jornalista Carlos Graieb viu essa questão por outro ângulo.

"Se não fosse um ex-presidente, ninguém se preocuparia em amar ou odiar os textos de José Sarney", escreveu. Para ele, o maranhense era "um escritor ameno, que tem paixão pelas metáforas, pela linguagem de raiz popular e pelo erotismo light".


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