Folha de S. Paulo


Zé do Caixão revive na TV em série com Matheus Nachtergaele

Estamos num prédio velho do Bom Retiro, no centro de São Paulo, onde Vitor Mafra dirige alguns episódios da série biográfica de José Mojica Marins. Esta noite Matheus Nachtergaele encarna Zé do Caixão, o famigerado personagem do cineasta, para recriar um trecho de "Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver".

Na cena, o protagonista ameaça matar três moças vestidas de baby-doll, atirando-as num poço cheio de cobras.

De nome provisório "Zé do Caixão", a série terá seis episódios exibidos pelo canal pago Space a partir de setembro.

Ana Ottoni/Divulgação
Matheus Nachtergaele como Zé do Caixão em série biográfica
Matheus Nachtergaele como Zé do Caixão em série biográfica

O enredo tratará do Mojica cineasta e de seis obras simbólicas de sua carreira. "Cada episódio é um 'making of' dramático, cômico, documental de uma certa forma, de um grande filme do Mojica ou de algum filme muito representativo de uma fase dele", diz Nachtergaele à Folha.

Vitor Mafra, que dirigiu o infantojuvenil "Lascados", trabalha em sua primeira série. A equipe, que também conta com Maria Helena Chira (de novelas como "Ti-Ti-Ti" e "Sangue Bom") e Felipe Solari (ex-VJ da MTV), assistiu à filmografia de Mojica para poder imitar, nos mínimos detalhes, cada cena a ser reproduzida. Nachtergaele, por exemplo, aparece à imagem e semelhança do mestre do terror brasileiro, com unhas postiças, cartola e barba falsa.

Quando a série ainda era um projeto, em 2009, os roteiristas André Barcinski e Ricardo Grynszpan, junto com Mafra, já sabiam quem queriam para ser o protagonista. "Ele é um ator de uma qualidade incrível e ainda é muito semelhante fisicamente com o Mojica", afirma o diretor.

A caracterização é da maquiadora Ana Van Steen, de filmes como "Cidade de Deus" e "Ensaio sobre a Cegueira". "Nunca imaginei que pudesse ser parecido com o Mojica. Sou bem mais do que pensava", espanta-se o ator.

Baseada no livro "Maldito: A Vida e o Cinema de José Mojica Marins, o Zé do Caixão" de André Barcinski e Ivan Finotti, editor da "Ilustrada", a série faz parte de uma iniciativa da produtora americana Turner (dona de canais como Cartoon Network) de investir em projetos nacionais –também produz "#PartiuShopping", do Tom Cavalcante.

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Durante as gravações, o elenco recebeu a visita de Mojica, dos filhos Crounel e Liz Vamp, e de uma de suas ex-mulheres, Nilce. Matheus apareceu caracterizado como Zé do Caixão. "Ele se emocionou, e me emocionei junto, óbvio."

O que mais marcou o ator, contudo, foi conhecer os filhos de Mojica. "O Crounel viu algumas cenas. Achei que fosse comentar alguma coisa da minha caracterização, mas ele disse: 'Poxa, se encontrasse o meu pai nessa idade, eu falaria para ele não fumar porque ele está sofrendo agora'."

O cineasta sofreu um infarto em junho de 2014. Saiu do hospital três meses depois.

Veja curiosidades dos filmes retratados em cada episódio

A Sina do Aventureiro (1958)
Fora dirigir e atuar, Mojica foi figurinista, cenógrafo, maquiador, cabeleireiro e carregou equipamentos

À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964)
Gastou tanto dinheiro para contratar a equipe que não sobrou verba para negativo –só fez um 'take' de cada cena

Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967)
A atriz Tânia Mendonça quase foi estrangulada pela jiboia que atacava sua personagem

Ritual dos Sádicos (1983)
Foi proibido em 1972 por apologia às drogas e só foi lançado na década seguinte

Perversão (1979)
Mojica usou na trilha, sem pagar um centavo, músicas de Paul McCartney e Pink Floyd

24 Horas de Sexo Explícito (1985)
O filme, que incluía uma cena de sexo com cachorro, ficou 20 semanas em cartaz no centro de São Paulo


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