Folha de S. Paulo


Memória: A moça que perdeu sua grande paixão para a Beatlemania

John Lennon (1940-1980)era apaixonado por Brigitte Bardot. Mas, em 1957, ele ainda não era um deus do rock e jamais chegaria perto da deusa francesa. Mas encontrou na escola uma garota um tanto parecida com BB. Começou a namorá-la, sem saber que a garota tinha tingido o cabelo de loiro porque sabia do interesse dele na atriz.

Cynthia Lennon, morta aos 75 anos na última quarta-feira (1º) de consequências de um câncer, na época era apenas Cynthia Powell e não sabia que dez anos depois seu novo namorado se tornaria, nas palavras dele, "mais famoso do que Jesus Cristo".

Para muita gente, ela ficará na história como a namoradinha de colégio de Lennon e mãe de seu primeiro filho, o cantor Julian, que foi engolida pela Beatlemania e sumiu de cena. Essa gente sempre relacionará o termo "mulher de Lennon" à artista multimídia Yoko Ono, aquela que dividiu atenção com ele em shows e ativismo político.

Cynthia merece mais espaço na biografia dos Beatles. Com seu jeito tímido, contido, ajudou a serenar os ânimos de Lennon em momentos de crise dele com os companheiros, isso lá atrás, ainda na busca do sucesso.

Tingir o cabelo não foi o único sacrifício de Cynthia por seu amado. Além de aturar o péssimo humor que às vezes tomava conta dele, a moça também era os olhos de John Lennon no cinema.

Explicando: Lennon não conseguia enxergar o que se passava na tela, mas se recusava a colocar os óculos para sair à noite. Achava o artefato um sinal de fraqueza –logo ele, que tornaria célebre e clássico o modelo de óculos de pequenos aros redondos.

Cynthia então passava todas as projeções a que assistiam sussurrando a ação no ouvido do namorado. Procedimento que, muitas vezes, provocava reações e brigas com quem sentasse por perto.

É bom lembrar que Cynthia foi uma maiores vítimas da Beatlemania. Depois do estouro do grupo, Lennon, que no início do namoro era ciumento e possessivo, até com reações violentas, passou a dedicar cada vez menos tempo ao relacionamento.

"PERDENDO MEU HOMEM"

"Sentia que estava perdendo meu homem para o mundo", disse ela numa entrevista à TV inglesa, nos anos 1980.

Lennon só se casou com Cynthia, em 23 de agosto de 1962, porque ela estava grávida. No dia do casamento, os Beatles cumpriram um show já agendado, o que matou qualquer chance de lua de mel. Quando Julian nasceu, Lennon estava em turnê; só viu o filho três dias depois.

O casal se separou em 1967, com Cynthia amaldiçoando as drogas pelo fim da relação, principalmente o LSD. Outra de suas maiores decepções era ser constantemente barrada e afastada de Lennon quando andava com os Beatles, confundida como mais uma tiete da banda.

Definitivamente, Cynthia Lennon foi mais do que isso.


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