Folha de S. Paulo


Seu Jorge abandona cavaco e investe em soul em novo disco

"Agora estamos no meio da festa. Os convidados estão chegando", ri Seu Jorge ao explicar o momento que seu novo disco, "Músicas para Churrasco - volume 2", representa. A sequência do trabalho lançado em 2011 –o de maior impacto na carreira– sai nesta terça (31) como continuação da trilha daquela mesma festa, que agora invade a noite.

O churrasco ainda é o mesmo, mas o som mudou. Se antes o que predominava era o samba, agora o soul e a disco aparecem em boa parte das músicas. "Era natural que isso acontecesse. Num churrasco é muito comum você ter uma roda de samba no início. Depois ela para e vem um DJ", explica o cantor fluminense.

O cavaquinho do parceiro Pretinho da Serrinha, que desde "Burguesinha" dava a cara das suas gravações, foi deixado mais de lado. Pretinho segue na banda, mas sem tanto destaque. "Precisava arriscar outros sons, para a gente não ficar tão marcado com o primeiro álbum", diz.

Vik Muniz/Divulgação
O cantor Seu Jorge, em foto do artista plástico Vik Muniz
O cantor Seu Jorge, em foto do artista plástico Vik Muniz

Como soulman, Seu Jorge surpreende também pela voz, muito menos grave em algumas faixas. Chega a ser difícil reconhecê-lo em "Tá em Tempo" e "Papo Reto", por exemplo. A mudança, diz, tem a ver com o fato de ter largado o cigarro há dois anos.

"Tive um ganho muito grande", avalia. "Estou me exercitando, coisa que não fazia. Fui um estúpido, porque ganhei um presente de Deus e não cuidei", diz ele, enquanto abre no celular um aplicativo para exercícios vocais.

Se os ritmos mudaram, as letras, porém, seguem como crônicas. Há a história do sujeito que gosta de uma mulher bipolar ("Ela É Bipolar"), a da garota que tira selfies sem parar ("Na Verdade Não Tá"), a de um homem bonito que namora uma feia ("Mina Feia").

Seu Jorge diz que gosta de pensar que os personagens do primeiro e do segundo volume já criaram laços.

"Você tem 'A Doida' no primeiro. É um comportamento que fala com o da menina do selfie. Talvez agora a doida e a menina do selfie sejam 'sisters'. Hoje elas fazem selfie juntas e vão para a balada beber e zoar", gargalha. A inspiração para pensar essas figuras, diz, vem do subúrbio, embora esteja radicado em Los Angeles desde 2012.

Seu Jorge, que cresceu na favela Gogó da Ema, em Belford Roxo (na Baixada Fluminense), aliás, disse recentemente ao jornal inglês "The Guardian" que nunca cantou em favela porque "ralou muito para escapar dali".

"Acho que favela não é lugar para as pessoas não. Não, não e não. Não é lugar para mim nem para ninguém", reforça. "Como já dizia Joãosinho Trinta, quem gosta de pobreza é intelectual. Pobre gosta de luxo", ri ele, que vive o pai de Pelé em um filme a ser lançado.

Outro lançamento ainda sem data é o de "Músicas para Churrasco - volume 3", o encerramento da trilogia. Será ambientado na hora mais louca da festa, provavelmente com muita música disco.

"O churrasco chegou a uma altura que o sujeito fala 'Acho que eu não tô legal', sabe?". Pega o celular e procura a anotação da primeira letra que fez para o CD. "Telhado sem casa,/ um carro com asa na Faixa de Gaza,/ tô vendo o que nunca se vê./ É bem melhor eu parar de beber,/ se não eu vou pirar."

Vik Muniz/Divulgação
Capa do disco
Capa do disco "Músicas para Churrasco - volume 2", de Seu Jorge, criação do artista plástico Vik Muniz

PROJETO GRÁFICO

O artista plástico paulistano Vik Muniz, amigo de Seu Jorge, ficou a cargo da concepção visual do volume 2.

A estética da capa e do encarte, de cores vibrantes, é inspirada nos cartazes que anunciam preços em supermercados e açougues. No livreto com as letras, estão imagens de carnes cruas e acompanhamentos como o pão com alho.

Esta é a segunda vez que Vik Muniz assina uma capa do cantor. A primeira foi em "Cru" (2004).

MÚSICAS PARA CHURRASCO - VOLUME 2
ARTISTA Seu Jorge
GRAVADORA Cafuné/Universal Music
QUANTO R$ 24


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