Folha de S. Paulo


Mesmo com queda em audiência, autor diz que não mudará novela

Principal alvo de uma campanha de boicote à novela "Babilônia", Teresa, advogada lésbica vivida por Fernanda Montenegro, dará uma resposta aos críticos nos próximos capítulos da trama das 21h da Globo.

Em uma conversa, a personagem vai imitar o hit de Valesca Popozuda e disparar: "É, minha querida, como diz aquela grande pensadora contemporânea: beijinho no ombro para as invejosas".

Apesar da audiência em queda e das críticas em redes sociais, parece ser com "beijinho no ombro" que Globo e autores da novela –Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga– têm reagido aos protestos contra o folhetim.

Dominada por duas vilãs, a devoradora de homens Beatriz (Glória Pires) e a invejosa Inês (Adriana Esteves), "Babilônia" estreou com sexo, beijo gay da terceira idade e violência. Desde então, a novela enfrenta polêmicas.

No dia 20, a Frente Parlamentar Evangélica do Congresso emitiu nota em repúdio a "Babilônia" por ter exibido beijos entre Teresa e sua parceira, Estela (Nathalia Timberg). O texto, assinado pelo deputado João Campos (PSDB-GO), afirma que o folhetim tem a "clara intenção de afrontar os cristãos" e propõe um boicote.

"Lamentavelmente estamos habituados à desconstrução da heteronormatividade promovida pelas novelas da Globo. O que assusta é usar atrizes dessa envergadura", diz o deputado Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ), que integra a frente parlamentar.

"Nosso foco é a patrocinadora oficial da novela, a Natura. Vamos para cima deles. A Globo vai pensar antes de ficar usando o horário nobre pra destruir a família brasileira", ameaça o deputado, que promete incentivar protestos contra o canal e a empresa de cosméticos.

"Há sete anos, a Natura patrocina a principal peça de teledramaturgia brasileira. A empresa não interfere no conteúdo, mas acolhe a pluralidade de pontos de vista e valoriza a tolerância", disse a assessoria da marca em nota.

A campanha da bancada evangélica encontrou resistência e ecos na internet. Há vozes de apoio ao casal, mas há também quem acredite que a trama ataque os bons costumes.

"Os parlamentares que usaram seus cargos no Congresso para falar mal da novela não têm respaldo algum para tomar qualquer atitude legal. São congressistas medíocres, que nunca fizeram nada que contribuísse para o progresso do país", diz Ricardo Linhares, um dos autores do folhetim.

"Desta vez, a Globo fez isso [beijo gay] de forma mais agressiva. Significativa parcela da população abraçou a nossa campanha", responde João Campos, presidente da frente.

O deputado se refere à audiência de "Babilônia". O folhetim estreou no dia 16 com 33 pontos de média e chegou à casa dos 24,9 no dia 25. A trama teve a pior primeira semana em ibope entre as novelas das 21h e já marcou audiência menor que o folhetim das 19h, "Alto Astral", índice raro no canal. Cada ponto equivale a 67 mil domicílios na Grande SP.

A trama ainda enfrenta no horário duas novelas "de família": a bíblica "Os Dez Mandamentos", da Record, e a reprise do infantil "Carrossel", do SBT. Ambas têm registrado audiências na casa dos 10 pontos, roubando público da Globo.

O SBT, que cansou de divulgar em 2011 que exibiria "o primeiro beijo lésbico da TV brasileira", na novela "Amor e Revolução", parece ter esquecido o passado. No sábado (21), a emissora estreou uma campanha com o mote "novela para família é aqui".

"Não há motivo para mudar. A novela estreou com 60 capítulos escritos. Tudo o que será exibido nos próximos meses já estava pronto", diz Ricardo Linhares. No "tudo" prometido por Linhares há mais sexo, beijo gay e o casamento de Estela e Teresa. "Não posso acrescentar nada melhor à minha posição do que o trabalho que estou fazendo", diz Fernanda Montenegro à Folha.


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