Folha de S. Paulo


Musical sobre 100 anos de samba estreia temporada em São Paulo

A data é bastante discutível, mas há muito se convencionou que o sucesso de "Pelo Telefone" no Carnaval de 1917 é o marco inicial do samba. As comemorações pelo centenário começam agora em grandes dimensões.

"Sambra – 100 Anos de Samba", que estreia nesta quinta (26) no Espaço das Américas, em São Paulo, é um espetáculo com 27 pessoas em cena, 101 músicas (75 cantadas, na íntegra ou em parte, e 26 transformadas em texto) e orçamento de R$ 4,9 milhões, sendo R$ 3,9 milhões via Lei Rouanet.

O título une "samba" e "Brasil", mas também "Bradesco", o patrocinador. O publicitário Washington Olivetto participou da concepção do projeto, que prevê site, livro e exposição.

Guto Costa/Divulgação
Diogo Nogueira no espetáculo
Diogo Nogueira no espetáculo "Sambra", de Gustavo Gasparini

Vai até setembro, mas o plano é retomar em 2016. "Samba faz um sentido imenso no ano olímpico", aposta Luiz Calainho, sócio das duas produtoras envolvidas no projeto, Aventura e Musickeria.

O chamariz é o músico Diogo Nogueira. Ele não só canta, mas representa com desenvoltura, como a Folha acompanhou na curta temporada carioca, na semana passada.

Em algumas cenas, ele cita os estilos de outros cantores, como Mário Reis, Francisco Alves e João Gilberto. E tem seu principal momento ao interpretar, no final do primeiro ato, "Súplica" e "Poder da Criação", composições do pai, João Nogueira (1941-2000).

"Passa na cabeça o filme da minha história. No início, foi difícil fazer. O elenco todo chorava. Mas agora estou mais firme", conta ele, que encaixou o teatro numa agenda que conta, em 2015, com lançamento de CD e turnê europeia com Hamilton de Holanda.

A ligação direta entre atores e a história do samba também aparece numa cena de Patricia Costa, neta de um dos fundadores da Portela, Cláudio Bernardo da Costa. E está implícita na presença destacada de Beatriz Rabello, filha de Paulinho da Viola.

"Acho que ele [o pai] está feliz com o resultado. O samba ainda é marginalizado. Parece que apenas volta à moda de vez em quando", diz ela.

Embora seja uma superprodução, o autor e diretor Gustavo Gasparani diz que teve autonomia para abordar o tema, ao qual dedica paixão e pesquisa desde a infância. Foi passista da Mangueira por 21 anos e criou outras peças relacionadas ao tema, como "Samba Futebol Clube" e "Otelo da Mangueira".

"Sambra" é uma revista, uma sucessão de quadros. Mas Gasparani fugiu de uma estrutura cronológica rígida. "Seria muito chato um clima de 'agora vem isso', 'agora vem aquilo'. Damos uma visão geral da história, mas o importante é falar da relação do samba com o homem e emocionar", afirma.

Há blocos voltados para as grandes transformações do gênero. A última foi o chamado pagode, surgido na quadra do bloco Cacique de Ramos com nomes como Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz.

Gasparani não conseguiu encaixar uma referência ao samba de São Paulo. "Adoniran Barbosa é muito importante, mas não dá para contemplar tudo. É um recorte, um mural, feito por um carioca. Mas São Paulo está bem representada pelo Vadico, parceiro de Noel Rosa", diz.

SAMBRA - 100 ANOS DE SAMBA
QUANDO 26/3, às 21h30; 27 e 28/3, às 22h30; 29/3, às 20h
ONDE Espaço das Américas, r. Tagipuru, 795, tel. (11) 3868-5860
QUANTO de R$ 100 a R$ 160
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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