Folha de S. Paulo


Milton Hatoum foi destaque entre brasileiros no salão

Com participação em mesas de todos os espaços que abrigaram a programação brasileira no Salão do Livro, Milton Hatoum foi o escritor do Brasil com maior destaque no evento parisiense.

E, coincidência ou não, foi justamente durante sua apresentação que o presidente francês François Hollande visitou a feira de livros.

De lá, ele podia escutar Hatoum contando como ficou surpreso com a recepção francesa de seu romance de estreia, "Relato de um Certo Oriente" (1989).

Marcelo Quaz/Folhapress
Gabriel Bá (à esq.) e Fábio Moon falam sobre 'Dois Irmãos', adaptação da obra de Milton Hatoum (à dir.) no Salão do Livro de Paris
Gabriel Bá (à esq.) e Fábio Moon falam sobre 'Dois Irmãos', adaptação da obra de Milton Hatoum (à dir.) no Salão do Livro de Paris

Uma surpresa que certamente já se dissipou no tempo, com o sucesso das traduções de suas obras e, agora, com a HQ "Dois Irmãos", adaptação de seu romance homônimo de 2000, que foi lançada primeiramente na França e só depois deve chegar às livrarias brasileiras.

A mesa com Hatoum e os autores da HQ, Fábio Moon e Gabriel Bá, no domingo (22), lotou o pequeno auditório do estande brasileiro.

A curiosidade do público e do mediador Michel Riaudel (tradutor francês de Hatoum) recaiu sobre o fato de irmãos gêmeos serem responsáveis pela adaptação para quadrinhos do livro que narra justamente uma história de rivalidade entre gêmeos.

A tônica geral das apresentações, porém, foi a questão da imagem exótica que o Brasil ainda projeta pelo mundo e de como o autor de livros que se passam na Amazônia, com todo o potencial de estereótipo que isso representa, conseguiu escapar da carga simbólica herdada de Jorge Amado.

Hatoum evocou a "circularidade da literatura" para falar do modo como a obra "As Mil e uma Noites" aparece filtrada pelo argentino Jorge Luis Borges na oralidade de seu primeiro livro. E falou da influência de Flaubert e Proust em "Dois Irmãos".

O que pareceria uma reivindicação de universalidade foi contrabalançado por comentários sobre o lugar específico do escritor latino-americano.

A mesa de Hatoum com o romancista libanês Amin Maalouf, no Institut Français, ampliou essa ideia.

Coube ao mediador Pascal Joudana encerrar a mesa colocando a mestiçagem linguística acima da mestiçagem racial: "A língua francesa é um 'créole' do latim, o que faz de todos nós mestiços e, portanto, brasileiros".


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